Como
publicado no post anterior, o incêndio no Museu da Língua Portuguesa, em São
Paulo, no dia 21 de dezembro de 2015, que custou a vida de um Bombeiro
Profissional Civil (BPC), permite a reflexão sobre vários aspectos do
Gerenciamento de Emergências.
Vou
continuar a discorrer sobre a trágica perda do BPC Ronaldo Pereira da Cruz. Como
foi publicado no site da Veja São Paulo:
Após a evacuação, o colega Antônio, da equipe de manutenção do centro cultural, tentou impedir que o brigadista voltasse ao prédio, mas ele quis encarar as chamas. Socorrido pelo Corpo de Bombeiros, Cruz morreu horas depois.
Já escrevi sobre o problema da proteção respiratória no post anterior. Antes de continuar sobre outro tema, sou obrigado a abrir um parênteses... Ao contrário do que grande parte da imprensa e algumas autoridades falaram e escreveram, Brigadista e Bombeiro Profissional Civil NÃO SÃO A MESMA COISA! O Brigadista é aquele funcionário que tem outras atividades e que, normalmente de forma voluntária, adicionalmente faz parte da Brigada de Incêndio de seu local de trabalho, após treinamento previsto em lei. O Bombeiro Profissional Civil, como o nome já diz, é o profissional que tem dedicação exclusiva para prevenção e resposta a emergências, com treinamento e atuação também regulamentadas pela lei. Ambos são peças importantes e complementares em qualquer sistema de gerenciamento de emergências, mas são profissionais com atuações diferentes.
Esclarecimento feito, gostaria agora de discorrer sobre Comando e Controle e a definição das prioridades e objetivos na resposta a emergência. O tema já foi abordado várias vezes neste blog, como nos posts Avaliação inicial - Size-up, Combate a incêndio industrial – Objetivos táticos e, mais recentemente, no post sobre a abordagem norte-americana mais recente para definição de objetivos táticos em incêndios estruturais, a SLICE RS.
Treinamento de bombeiros nos EUA. Bombeiros públicos, privados e brigadistas adotam o mesmo sistema de comando e controle. (Foto: Sherri Abendroth - www.flickr.com) |
Ronaldo era o único BPC trabalhando na edificação, segundo a matéria de Veja São Paulo já citada, devido a seu parceiro estar no hospital com a filha. Essa situação por si só, embora não fosse ideal, não era intolerável. Vale lembrar aqui - sem examinar em maiores detalhes a situação específica do Museu - que a contratação de BPCs não exime a empresa de manter uma Brigada de Incêndio, salvo em condições especiais. A atuação inicial do BPC, ajudando na evasão dos funcionários do local, parece ter sido perfeita e completamente alinhada com a primeira prioridade tática da resposta ao incidente, que é a Segurança (life safety): a preservação da vida, dos socorristas e do público.
Porém, ao retornar sozinho para combater as chamas, a estabilização do incidente recebeu prioridade sobre a segurança, o que custou a vida do BPC. Não tenho informações para julgar porque essa decisão foi tomada e muito menos para censurá-la. É fácil, passadas semanas do incêndio, sentar-se ao computador e escrever sobre os possíveis erros de outros. Outra coisa é estar sozinho, defronte a um incêndio de grandes proporções e ter que tomar uma decisão rapidamente, sem ter todas as informações necessárias.
Apesar disso, o triste caso reforça a importância das prioridades táticas na resposta a incidentes:
1 - Segurança: preservação da vida, dos socorristas e do público.
2 - Estabilização do incidente: organização de esforços de maneira que o incidente não se propague.
3 - Conservação da propriedade (e do meio ambiente).
A aplicação dessas prioridades, e sempre nessa ordem, pode salvar vidas.