Muitas vezes, projetos de sistemas de
emergência e planos de abandono ou atendimento são elaborados
levando em conta apenas aspectos técnicos, sem considerar
características do comportamento humano.
Embora os códigos de segurança atuais
reflitam uma compreensão mais profunda do comportamento humano em
emergências, ainda existem vários mitos sobre como iremos nos
comportar quando ameaçados. Os próximos três posts irão examinar
um dos mais conhecidos, o pânico.
Primeiramente é necessário compreender o
significado da palavra pânico. Segundo o Aurélio, pânico pode ser
definido como “susto ou pavor repentino, às vezes sem fundamento,
que provoca uma reação desordenada, individual ou coletiva, de
propagação rápida”.
Em
2008, no tiroteio da Universidade de Illinois Norte, quando as
primeiras equipes táticas entraram na cena do crime, não
encontraram pânico, mas alguns estudantes ainda sentados em seus
lugares, em choque. (Chronicle photo by Eric Sumberg Daily-Chro nicle.com)
Uma definição mais apropriada para
emergências é usada pelo Professor de Epidemiologia da Universidade
do Mississipi, Anthony Mawson: “O termo ‘pânico’, refere-se ao
medo e/ou fuga inapropriados (ou excessivos) e ao medo e/ou fuga
altamente intensos”.
Existe uma idéia generalizada entre o
público e alguns gestores de emergência de que uma população
sujeita a uma situação de emergência ou desastre irá
necessariamente entrar em pânico.
Conforme o psicólogo peruano Santiago
Valero Alamo, “há uma imagem popular predominante de como as
pessoas reagem durante um desastre. (...) Presume-se que os
indivíduos, especialmente em um momento de emergência, estarão
aterrorizados e agindo irracionalmente. Também estarão atordoados e
incapazes de cuidar de si mesmos. Acredita-se que se comportarão de
forma antissocial, que estarão psicologicamente traumatizados ou
psicologicamente incapacitados e reagirão de forma egoísta e
egocêntrica, durante e imediatamente após uma ameaça de desastre”.
Já a saudosa pesquisadora Guylène Proulx afirmava que “a mídia e
o público em geral frequentemente mencionam o potencial de pânico
em massa durante incêndios, imaginando uma multidão que
repentinamente quer fugir do perigo a todo custo, possivelmente sendo
pisoteada ou esmagada durante o processo”.
Porém, estudos têm demonstrado que o
pânico da multidão ou pânico em massa é uma ocorrência incomum
diante de vários tipos de situação de emergência ou ameaça.
Por exemplo, em situação de combate o
fenômeno ocorre raramente, mesmo em ataques aéreos sobre populações
civis, nos quais é significante e surpreendente o baixo número de
episódios de pânico.
Segundo a Organização Mundial da Saúde,
a idéia de que desastres trazem à tona o pior do comportamento
humano, como tumultos e saques é um mito. A organização coloca
que, “embora existam casos isolados de comportamento antissocial
(...), a maioria das pessoas responde de modo espontâneo e
generoso”.
Apesar de o pânico ser raro, ele ainda
pode existir em algumas situações, conforme observa a jornalista Amanda Ripley, autora do livro “Unthinkable”:
“a moda atual em pesquisa sobre desastres é negar que o pânico
ocorra. (...) Mas somente porque o pânico é raro, não significa
que não devemos discuti-lo. Pânico ocorre”.
O sociólogo Enrico Quarantelli, um dos
principais pesquisadores sobre o tema, concluiu que para a existência
de pânico são necessárias três condições: as pessoas devem ter
a sensação que estão sendo aprisionadas, devem ter uma grande
sensação de impotência e um profundo isolamento. Com a presença
desses três elementos, o surgimento do pânico é uma possibilidade
que deve ser levada em conta. É importante notar que a sensação ou
ameaça de aprisionamento é mais relevante que a certeza ou crença
que não há saída, ocasião onde o pânico também não costuma
ocorrer.
No próximo post, vamos continuar examinando o pânico, agora discorrendo sobre a "afiliação".
No próximo post, vamos continuar examinando o pânico, agora discorrendo sobre a "afiliação".
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