Apesar dos
desastres naturais estarem constantemente na mídia e provocarem enormes
prejuízos materiais e pessoais, em linhas gerais, as empresas insistem em não se
preparar para esse tipo de evento.
A seguradora FM Global publicou um interessante estudo investigando
as razões pelas quais as empresas falham no planejamento para fazer frente a
desastres naturais.
Evasão de residentes do sul da Califórnia durante incêndios florestais em outubro de 2008. (http://www.nytimes.com) |
A ameaça dos
desastres naturais é bem real. O ano de 2011 teve perdas econômicas recordes em
função das catástrofes naturais que assolaram o mundo. Os valores, segundo estimativas publicadas pela ONU e pelo Centro de Pesquisa sobre a Epidemiologia de Desastres,
chegam a US$ 366 bilhões. O prejuízo representa um aumento de 50% em relação ao
recorde anterior, de US$ 243 bilhões (atingido em 2005).
As mudanças
climáticas globais tendem a provocar mais eventos climáticos extremos. Conforme
notado pelo geólogo James L. Powell no e-book “Rough Winds: Extreme Weather and Climate Change”,
uma nevasca dom 23,2 polegadas de neve ocorreu em 19 e 20 de dezembro de 2009 e
outra de 28,5 polegadas ocorreu em 5 e 6 de fevereiro de 2010, na Filadélfia,
Estados Unidos. Ambas são consideradas
tempestades do tipo “uma a cada cem anos”, mas ocorreram com seis meses de
intervalo.
O Dr. Powell
lembra também da tempestade tropical Anita,
em março de 2011, o segundo evento desse tipo a atingir o solo na história do
Brasil.
Enchente em Itajaí, Santa Catarina, em 2008. (http://www.grupodiretiva.com.br) |
As empresas de seguros, em especial as grandes resseguradoras internacionais, mostram-se preocupadas em estimar riscos que não refletem o histórico dos sinistros já atendidos, especialmente agora que três estados norte-americanos passaram a exigir que as seguradoras informem seus planos para responder às mudanças climáticas globais.
Apesar de
todos esses fatos, a grande maioria das empresas ainda insiste em não se preparar para os desastres
naturais. Por quê?
Nas postagens
de 23/12,
30/12,
06/01,
13/01 e 03/02,
abordamos a psicologia de emergência e como o comportamento dos envolvidos em
emergências e desastres nem sempre é aquele que esperamos, ditado pelo senso
comum. Veremos agora como a psicologia de emergência pode elucidar não somente
o comportamento daqueles que se veem apanhados em uma emergência, mas também
daqueles que deveriam se preparar para enfrenta-la.
A Falácia
de Monte Carlo
Um
comportamento humano curioso é aquele que se manifesta quando um desastre
ocorre e se tem a sensação de que outro não irá ocorrer novamente, pelo menos
tão brevemente. Imagine-se na Filadélfia, após a nevasca de dezembro de 2009. Nosso
cérebro provavelmente esperaria que outra nevasca do tipo “uma a cada cem anos”
ocorreria somente em 2109 e não meio ano depois!
Esse
pensamento é conhecido como a "Falácia de Monte Carlo",
que consiste na crença de que se o vermelho saiu várias vezes na roleta, é mais
provável que da próxima vez saia o preto. Em 1913, no famoso casino, a bola
caiu no preto 26 vezes seguidas, evento extremamente improvável, fazendo com
que os apostadores perdessem milhões de Francos. Os apostadores concluíram – incorretamente
– que após a sequencia de pretos, deveria haver uma sequencia de vermelhos. Porém,
como os eventos são independentes, isso não aconteceu.
Existe até
uma piada utilizando essa falácia... “Se vai viajar num avião comercial, leve
uma bomba consigo por questões de segurança. A probabilidade de não haver duas
pessoas com uma bomba no mesmo avião é avassaladora”.
Quando um gestor de uma empresa não se prepara
para um desastre natural do mesmo tipo que já aconteceu naquele local, por
julgar improvável demais que o evento se repita (pelo menos na sua carreira
naquela empresa), a Falácia de Monte Carlo entra em ação, impedindo o correto
planejamento e aumentando as chances da empresa não sobreviver ao próximo
desastre natural.
Na próxima
postagem, veremos um pouco de estatística e mais alguns aspectos que influenciam a falta de preparação para
esse tipo de cenário e o que pode ser feito para mudar a situação.
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