Um
parâmetro usado em projetos avançados de segurança contra incêndio é o tempo
para escape completo da população de uma edificação, composto pelo somatório
dos tempos decorridos do início da ignição até a detecção e o alarme ao fogo,
acrescido do tempo de pré-movimento, ou seja, o tempo entre o alarme soar e os
ocupantes começarem a se dirigir para as saídas, e o tempo da efetiva
movimentação até a evacuação completa.
O
tempo pré-movimento em muitos casos é aumentado por comportamentos incoerentes
com a situação de emergência. Conforme Amanda Ripley, nós temos a tendência de acreditar
que tudo está bem porque antes daquele momento quase sempre a situação esteve
realmente bem. Essa tendência é conhecida como “viés de normalidade”.
O comportamento pode ser estendido a outras situações
de emergência além de incêndios. Por um lado, as pessoas em situação de
emergência são submetidas a estímulos, que podem ser avisos por meios de
comunicação em massa, alarmes de emergência, sinais que a situação está errada
(fumaça, ruídos ou outros) ou ainda a uma combinação desses estímulos e, por
outro lado, o viés de normalidade leva os expostos à situação de emergência a
acreditarem que tudo está bem. Esses pensamentos paradoxais criam uma
dissonância cognitiva que as pessoas tentam eliminar através de duas maneiras:
ou aceitando os avisos e abandonando a área de perigo ou ignorando esses avisos
e tentando manter a normalidade. Obviamente, esse segundo comportamento pode
ter consequências funestas.
O naufrágio do MV Estonia – 1994
No naufrágio do MV Estonia, em 1994, há relatos que um número de pessoas reagiu de modo incrédulo aos sinais precoces [do naufrágio]. Elas lentamente deram-se conta que os sons que ouviram não eram normais, ou melhor, não conseguiram persuadir a si mesmos que a situação ainda era normal.
O World Trade Center – 2001
Conforme
relatado pelo National Institute of Standards and Technology – NIST, após
pesquisa com sobreviventes dos ataques terroristas ao World Trade Center em 11
de setembro de 2001, os ocupantes do WTC 1 (ou Torre Norte) empenharam-se em
várias atividades entre a percepção do impacto da aeronave e o início da
evacuação. Algumas delas foram relacionadas à sobrevivência própria ou de
colegas, como ajudar outras pessoas (30% dos entrevistados) ou combater focos
de incêndio (6%), e outras não diretamente ligadas ao escape da ameaça, como
falar com outros (70%), pegar itens pessoais (46%), desligar computadores (6%)
ou ainda simplesmente continuar trabalhando (3%). No WTC 2 (ou Torre Sul),
atingida posteriormente, comportamento semelhante foi observado. Dos
entrevistados, 75% falaram com outros, 57% pegaram itens pessoais, 7%
desligaram computadores e 6% continuaram trabalhando.
Ainda no mesmo estudo, um
sobrevivente do 78º andar relata que durante a evacuação do WTC 2, nas escadas,
“as pessoas estavam tendo conversas banais, pareciam calmas e caminhavam em
fluxo constante, sem senso de pânico”.
Vamos ver no próximo post como esses conceitos de psicologia de emergências podem ajudar na fase de planejamento.
Vamos ver no próximo post como esses conceitos de psicologia de emergências podem ajudar na fase de planejamento.
Excelente estudo. Aguardo ansioso por mais detalhes.
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