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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Pânico por quê? Está tudo normal...


Um parâmetro usado em projetos avançados de segurança contra incêndio é o tempo para escape completo da população de uma edificação, composto pelo somatório dos tempos decorridos do início da ignição até a detecção e o alarme ao fogo, acrescido do tempo de pré-movimento, ou seja, o tempo entre o alarme soar e os ocupantes começarem a se dirigir para as saídas, e o tempo da efetiva movimentação até a evacuação completa.

O tempo pré-movimento em muitos casos é aumentado por comportamentos incoerentes com a situação de emergência. Conforme Amanda Ripley, nós temos a tendência de acreditar que tudo está bem porque antes daquele momento quase sempre a situação esteve realmente bem. Essa tendência é conhecida como “viés de normalidade”.


O comportamento pode ser estendido a outras situações de emergência além de incêndios. Por um lado, as pessoas em situação de emergência são submetidas a estímulos, que podem ser avisos por meios de comunicação em massa, alarmes de emergência, sinais que a situação está errada (fumaça, ruídos ou outros) ou ainda a uma combinação desses estímulos e, por outro lado, o viés de normalidade leva os expostos à situação de emergência a acreditarem que tudo está bem. Esses pensamentos paradoxais criam uma dissonância cognitiva que as pessoas tentam eliminar através de duas maneiras: ou aceitando os avisos e abandonando a área de perigo ou ignorando esses avisos e tentando manter a normalidade. Obviamente, esse segundo comportamento pode ter consequências funestas.



O naufrágio do MV Estonia – 1994 


No naufrágio do MV Estonia, em 1994, há relatos que um número de pessoas reagiu de modo incrédulo aos sinais precoces [do naufrágio]. Elas lentamente deram-se conta que os sons que ouviram não eram normais, ou melhor, não conseguiram persuadir a si mesmos que a situação ainda era normal. 



O World Trade Center – 2001

Conforme relatado pelo National Institute of Standards and Technology – NIST, após pesquisa com sobreviventes dos ataques terroristas ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001, os ocupantes do WTC 1 (ou Torre Norte) empenharam-se em várias atividades entre a percepção do impacto da aeronave e o início da evacuação. Algumas delas foram relacionadas à sobrevivência própria ou de colegas, como ajudar outras pessoas (30% dos entrevistados) ou combater focos de incêndio (6%), e outras não diretamente ligadas ao escape da ameaça, como falar com outros (70%), pegar itens pessoais (46%), desligar computadores (6%) ou ainda simplesmente continuar trabalhando (3%). No WTC 2 (ou Torre Sul), atingida posteriormente, comportamento semelhante foi observado. Dos entrevistados, 75% falaram com outros, 57% pegaram itens pessoais, 7% desligaram computadores e 6% continuaram trabalhando. 

Ainda no mesmo estudo, um sobrevivente do 78º andar relata que durante a evacuação do WTC 2, nas escadas, “as pessoas estavam tendo conversas banais, pareciam calmas e caminhavam em fluxo constante, sem senso de pânico”.


Vamos ver no próximo post como esses conceitos de psicologia de emergências podem ajudar na fase de planejamento.

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