Pesquisar este blog

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Pânico


Muitas vezes, projetos de sistemas de emergência e planos de abandono ou atendimento são elaborados levando em conta apenas aspectos técnicos, sem considerar características do comportamento humano.
Embora os códigos de segurança atuais reflitam uma compreensão mais profunda do comportamento humano em emergências, ainda existem vários mitos sobre como iremos nos comportar quando ameaçados. Os próximos três posts irão examinar um dos mais conhecidos, o pânico.
Primeiramente é necessário compreender o significado da palavra pânico. Segundo o Aurélio, pânico pode ser definido como “susto ou pavor repentino, às vezes sem fundamento, que provoca uma reação desordenada, individual ou coletiva, de propagação rápida”.

Em 2008, no tiroteio da Universidade de Illinois Norte, quando as primeiras equipes táticas entraram na cena do crime, não encontraram pânico, mas alguns estudantes ainda sentados em seus lugares, em choque. (Chronicle photo by Eric Sumberg Daily-Chronicle.com)

Uma definição mais apropriada para emergências é usada pelo Professor de Epidemiologia da Universidade do Mississipi, Anthony Mawson: “O termo ‘pânico’, refere-se ao medo e/ou fuga inapropriados (ou excessivos) e ao medo e/ou fuga altamente intensos”.
Existe uma idéia generalizada entre o público e alguns gestores de emergência de que uma população sujeita a uma situação de emergência ou desastre irá necessariamente entrar em pânico. 
Conforme o psicólogo peruano Santiago Valero Alamo, “há uma imagem popular predominante de como as pessoas reagem durante um desastre. (...) Presume-se que os indivíduos, especialmente em um momento de emergência, estarão aterrorizados e agindo irracionalmente. Também estarão atordoados e incapazes de cuidar de si mesmos. Acredita-se que se comportarão de forma antissocial, que estarão psicologicamente traumatizados ou psicologicamente incapacitados e reagirão de forma egoísta e egocêntrica, durante e imediatamente após uma ameaça de desastre”. Já a saudosa pesquisadora Guylène Proulx afirmava que “a mídia e o público em geral frequentemente mencionam o potencial de pânico em massa durante incêndios, imaginando uma multidão que repentinamente quer fugir do perigo a todo custo, possivelmente sendo pisoteada ou esmagada durante o processo”.
Porém, estudos têm demonstrado que o pânico da multidão ou pânico em massa é uma ocorrência incomum diante de vários tipos de situação de emergência ou ameaça.
Por exemplo, em situação de combate o fenômeno ocorre raramente, mesmo em ataques aéreos sobre populações civis, nos quais é significante e surpreendente o baixo número de episódios de pânico.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a idéia de que desastres trazem à tona o pior do comportamento humano, como tumultos e saques é um mito. A organização coloca que, “embora existam casos isolados de comportamento antissocial (...), a maioria das pessoas responde de modo espontâneo e generoso”.
Apesar de o pânico ser raro, ele ainda pode existir em algumas situações, conforme observa a jornalista Amanda Ripley, autora do livro “Unthinkable”: “a moda atual em pesquisa sobre desastres é negar que o pânico ocorra. (...) Mas somente porque o pânico é raro, não significa que não devemos discuti-lo. Pânico ocorre”.
O sociólogo Enrico Quarantelli, um dos principais pesquisadores sobre o tema, concluiu que para a existência de pânico são necessárias três condições: as pessoas devem ter a sensação que estão sendo aprisionadas, devem ter uma grande sensação de impotência e um profundo isolamento. Com a presença desses três elementos, o surgimento do pânico é uma possibilidade que deve ser levada em conta. É importante notar que a sensação ou ameaça de aprisionamento é mais relevante que a certeza ou crença que não há saída, ocasião onde o pânico também não costuma ocorrer.
No próximo post, vamos continuar examinando o pânico, agora discorrendo sobre a "afiliação".




Nenhum comentário:

Postar um comentário