Pesquisar este blog

domingo, 27 de janeiro de 2013

O incêndio em Santa Maria

O incêndio na boate Kiss na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul, ocorrido na madrugada de hoje é uma tragédia que choca o país e o mundo. Até este momento, o número de vítimas é de 233 mortos e 106 feridos. Como em outros casos discutidos aqui neste blog, o assunto ainda é recente e ainda há muito a se apurar, mas algumas fatos já podem ser observados do ponto de vista do Gerenciamento de Emergências, em algumas de suas quatro fases: prevenção (também chamada de mitigação), preparação, resposta e reconstrução.

A falta de controle dos materiais de construção e acabamento utilizados no local e que permitiram a rápida propagação do incêndio e a emanação de fumaça tóxica, o uso de pirotecnia em um ambiente fechado e a possível superlotação do local são falhas da fase de prevenção. Embora o evento tivesse uma classificação etária de 18 anos, a imprensa noticiou que as vítimas fatais têm a partir de 16 anos, o que indica que o controle de entrada não era tão rígido quanto o necessário.

Já na fase de preparação, a imprensa tem salientado bastante as possíveis falhas. Dimensionamento e sinalização incorreta das saídas de emergência, ausência de brigada de incêndio e de bombeiros profissionais civis e a clara falta de planejamento de emergência. Por exemplo, aparentemente, os seguranças não tinham o menor preparo para uma situação dessa e nem um sistema de comunicação eficiente, tanto é que inicialmente os seguranças tentaram barrar a saída do público, temendo um calote, obviamente porque não tinham a menor noção do que estava acontecendo. Isso lembra a tragédia do incêndio no supermercado Ycuá Bolaños, em Assunção, Paraguai, em 2004. Infelizmente, como em inúmeros outros fatores da tragédia gaúcha, havia lições do passado que não foram aprendidas.

Prevenção e preparação são as fases onde ficam mais claras as falhas de fiscalização do Poder Público em permitir a realização de evento dessa magnitude em local não adequado. O Especialista em Gerenciamento de Riscos, Planejamento de Emergências e Catástrofes tecnológicas Moacyr Duarte de Souza Junior fez uma interessante análise do assunto hoje na Globo News, salientando que uma inspeção de segurança de duas horas de duração teria evitado a tragédia.

Resposta ao incêndio em Santa Maria. (http://g1.globo.com/)

A TV mostrou imagens do atendimento ao incêndio: além dos bombeiros, policiais e tripulantes de ambulâncias, muitas pessoas não uniformizadas, sem equipamento de segurança algum, algumas sem camisa, participavam dos esforços de resgate. Algumas tentavam demolir uma parede com ferramentas manuais. Aparentemente,na fase de resposta, houve falta de coordenação dos recursos (oficiais e voluntários), coisa que a aplicação do Sistema de Comando de Incidentes (ICS) poderia minimizar.

Quero deixar claro que não critico os socorristas que participaram da operação. Enquanto eu escrevo depois dos fatos, sentado em meu sofá, eles tiveram que enfrentar fogo, fumaça e toda carga emocional da tragédia, atuando com recursos limitados e informações incompletas. Não sei também se os orgãos de emergência da cidade de Santa Maria algum dia imaginaram enfrentar um desastre dessas proporções. Porém, na fase de planejamento (agora, por parte do Poder Público), isso deveria ter sido equacionado. Essas possíves deficiências no planejamento público e coordenação de recursos disponíveis não são de modo algum exclusividade da cidade de Santa Maria ou do Rio Grande do Sul.

A fase de recuperação ainda é incipiente. Alguns contatos para doação de sangue e para participação de trabalhadores voluntários podem ser encontrados na página do G1: http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2013/01/saiba-como-ajudar-vitimas-e-familias-do-incendio-em-santa-maria.html.

Outro fato digno de nota é o uso das redes sociais, tanto para comunicação dos sobreviventes para tranquilizarem familiares e amigos, como também para algumas postagens com informações erradas, como de fotos de frequentadores do local, tiradas em dias anteriores e divulgadas como tendo sido feitas no dia da tragédia.

Infelizmente, esse desastre - pelo menos com essas proporções - foi totalmente evitável. A cada noite, dezenas ou talvez centenas de casas noturnas, nos mais variados locais do país, funcionam em condições iguais ou até piores do que a Kiss. Resta saber se vamos aprender as lições dessa vez e evitar novas tragédias assim.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Sistema de alerta contra inundações nos EUA

O problema das inundações, que castiga a cidade de Duque de Caxias, entre outras, não é uma exclusividade dos países em desenvolvimento. A revista Emergency Management Magazine de setembro de 2012 publicou uma matéria sobre o sistema de alerta de inundações da cidade de Austin, no Texas, Estados Unidos.

http://austintexas.gov/

O sistema americano é o FEWS — Flood Early Warning System, ou Sistema de Aviso Antecipado de Inundação. O sistema iniciou sua operação em 1985, em uma forma pouco amigável, que trazia apenas números para que os operadores interpretassem o risco de inundação. Em 2008, passou por uma modernização, que encerrou-se em 2010.

O sistema atual integra entradas de informação de diferentes fontes, como dados do radar doppler do National Weather Service e de pluviômetros em terra, calculando e gerando a cada 15 minutos mapas precisos das áreas com risco de inundação, com uma antecedência de até 6 horas. Baseados nesses mapas, as autoridades podem ordenar evacuações ou interditar vias, ou ainda informar o Corpo de Bombeiros da cidade para um planejamento eficaz da resposta necessária.

Um dos pontos fracos do sistema – conforme seus próprios idealizadores – é a falta de uma interface de comunicação com o público, que não tem acesso aos mapas gerados. Embora prevista, essa interface ainda não foi desenvolvida por problemas de orçamento.