Pesquisar este blog

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Resposta aos atentados ao World Trade Center em 2001 e o Sistema de Comando de Incidentes


É possível identificar a influência dos vários elementos do SCI na resposta aos atentados terroristas em Nova Iorque em 2001, ressalvando que é sempre difícil criticar um trabalho em que pereceram 343 Bombeiros, pessoas que deram suas vidas heroicamente em favor do próximo. Porém, uma maneira de honrar aqueles que pereceram é aprender com os erros do passado para evitar sua repetição.


Cerimônia no décimo aniversário dos atentados. (© FDNY Photo Unit)




Hoje, é claro o fato que a ausência de um sistema de comando unificado na ocasião foi um dos fatores responsáveis pelo número sem precedentes de socorristas mortos em serviço.


A análise a seguir será feita com base em algumas das principais características do SCI: unidade de comando, alcance de controle, comunicações integradas e terminologia comum.


Unidade de comando


Embora oficialmente o comando das operações fosse do Corpo de Bombeiros de Nova Iorque (FDNY), não houve comando unificado na resposta ao atentado. Durante o evento houve o estabelecimento de dois postos de comando paralelos, sendo o do FDNY no lobby das torres e o do Departamento de Polícia (NYPD) a três quarteirões, na esquina da Church com a Vesey Street. Nenhum supervisor da NYPD reportou ao posto de comando dos Bombeiros.


Posteriormente, membros tanto dos Bombeiros como da Polícia reclamaram sobre as dificuldades para estabelecer um comando conjunto. Os Policiais reclamaram da ausência de disciplina militar por parte dos Bombeiros e esses, por sua vez, reclamaram de uma dificuldade histórica de relacionamento com o NYPD.


Alcance de controle


Outro pilar do SCI, o alcance de controle gerenciável, não se mostrou presente na resposta. Sessenta bombeiros de folga morreram no colapso dos edifícios. Equipes de bombeiros compareceram ao local – sem terem sido despachadas para lá – e muitas equipes não se reportaram aos postos de comando, se autodespachando para as torres, sem nenhuma missão definida.


Algumas guarnições foram vistas carregando pesadas mangueiras de incêndio pelas escadas visando o combate a um incêndio que o comando já havia considerado como batalha perdida. Com certeza, a lentidão e o cansaço dessa operação contribuiu para a perda de vidas de Bombeiros, além de que esses profissionais teriam sido mais úteis em outras funções, como auxílio na evacuação.


Os comandantes do NYPD e principalmente do FDNY não tinham a contagem e localização exata das equipes que atuavam no local. Até hoje não foi possível estabelecer com certeza o local das mortes de todas as baixas do FDNY.


Comunicações integradas e terminologia comum


Talvez o fator que mais tenha contribuído para o trágico resultado das operações para o NYFD tenha sido o colapso de seu sistema de comunicação por rádio. Os comandantes não conseguiam se comunicar com as equipes que estavam dentro dos prédios, de modo análogo ao que aconteceu durante a resposta ao atentado de 1993. Embora os antigos HTs (“handie-talkie”) analógicos do Departamento tenham sido substituídos por modelos digitais no início de 2001, houve um retorno aos HTs analógicos logo depois, por causa de problemas com o sistema digital. Dessa forma, os Bombeiros portavam modelos ultrapassados no dia 11 de setembro.


A integração das comunicações entre os Bombeiros e a Polícia também não existiu. Talvez o exemplo mais dramático da falta de comunicação entre os departamentos tenha sido dado quando os helicópteros do NYPD que sobrevoavam o local avisaram sobre o colapso iminente da torre norte, 21 minutos antes dela ruir. O aviso foi dado na freqüência exclusiva da Polícia que iniciou a retirada dos seus homens das torres. O mesmo aviso não foi ouvido pelos Bombeiros, muitos dos quais ficaram na torre norte até seu colapso, perecendo.


Helicóptero da NYPD observa o colapso das torres gêmeas. (http://www.examiner.com/)


Algumas medidas que poderiam ter sido tomadas para evitar esse desfecho:
- Adoção do SCI, incluindo planejamento prévio e treinamentos periódicos em conjunto com os departamentos envolvidos.
- Revisão do planejamento após os treinamentos.
- Planejamento para eventos com grande número de vítimas e socorristas. Muitas vezes, devido à magnitude do evento, o mesmo poderia ter treinamento apenas do tipo “table top”.
- Procedimentos e treinamentos para evitar o “autodespacho” para a zona quente, sem ordem expressa do comando.
- Substituição do sistema analógico de comunicação por sistema digital que funcionasse corretamente.
- Definição de uma freqüência comum para comunicações entre os departamentos.
- Elaboração de plano de comunicação alternativo em caso de colapso do sistema principal.

Um comentário:

  1. Quando critico os procedimentos, me refiro exatamente neste momento de planejamento, coordenação e execução que parece não ter havido,levando tudo para ação por emoção, resultando nas mortes que poderia ter sido evitadas.

    ResponderExcluir