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sexta-feira, 30 de março de 2012

Contar tudo? Estudo analisa a comunicação em crises.

Na postagem de 27 de janeiro, foi abordado o tema da comunicação em crises. Falamos que, "diante dos primeiros sinais da crise, a organização enfrenta o dilema de comunicar ou não. A favor de comunicar estarão sempre vantagens como tomar a iniciativa, não deixar que terceiros tomem as rédeas e controlar a mensagem, não deixando que ela se transforme em uma arma cujo tiro saia pela culatra. Por outro lado, permanecer em silêncio sempre pode fazer com que a crise se agrave".


A idéia de que a empresa em crise deve divulgar os fatos ruins o quanto antes é uma "regra" aceita como verdadeira, mas que carece de suficiente pesquisa e evidências científicas, segundo a Dra. Jo Robertson. Em um recente trabalho publicado no Public Relations Journal, "Tell It All?: Challenging Crisis Communications’ Rules", a pesquisadora procurou determinar academicamente se há validade para essa regra.


A Dra. Robertson selecionou algumas das crises mais noticiadas no período de 2003 a 2006analisou o número diário de notícias publicadas e pesquisou com jornalistas em Washington, sobre suas atitudes para com as organizações que foram descobertas retendo informações chave. A pesquisadora também acompanhou as flutuações de preços de ações para determinar o impacto sobre o valor de mercado da empresa.


A explosão da Challenger (STS-51L) - vista aqui 73 segundos antes do acidente, em 1986 - foi um dos casos analisados pela pesquisadora.  (Photo by MPI/Getty Images)

Entre suas conclusões:

“Existe agora pesquisas para apoiar o que até então tem sido apenas suposição no que diz respeito ao dano potencial que poderia ser causado por sonegação de informações. Ao invés de assumir que as informações precisam ser compartilhadas abertamente, agora sabemos que a consequência da retenção de informações será mais cobertura da mídia, mantendo informações negativas mais tempo em evidência e aumentando as chances de danos à reputação. A sonegação de informações que mais tarde vêm à luz não só pode causar a atenção adicional da mídia, mas atenção de mídia ainda maior do que a inicialmente gerada no início da crise”.

Embora a própria autora ressalte a necessidade de pesquisas adicionais, agora temos comprovação da boa prática de comunicação em crises, o que pode ser usado na persuasão da alta administração de uma empresa sobre a importância do tema.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Resposta a polimerização descontrolada

Na postagem anterior, falamos sobre a polimerização de um vagão tanque de estireno nos EUA, em 2005.


O vagão estava marcado com número ONU 2055. O Manual para Atendimento a Emergências com Produtos Perigosos identifica o número ONU 2055 como "monômero de estireno, estabilizado", que está ligado ao Guia 128P. A letra "P" significa que o produto químico pode sofrer "auto-polimerização", e que é fornecido com um agente inibidor de polimerização. A guia 128 abrange líquidos inflamáveis (não polar / não miscível em água). Na expectativa de um possível incêndio, a guia 128 recomenda: "Se a carga ou tanque estiver envolvido em fogo, isole a área em um raio de 800 metros em todas as direções. Considere a necessidade de evacuação da área isolada".

Na ausência do manual, uma opção seria utilizar o software ou o site do CAMEO (Computer-Aided Management of Emergency Operations): <http://cameochemicals.noaa.gov/about>. O resultado da busca do número ONU 2055 iria direcionar para a Guia 128 P "Emergency Response Guide 2008", que é igual a do nosso manual, só que em inglês. Além disso, a busca iria direcionar para uma folha de dados, com mais informações sobre o produto e recomendações para a resposta, que foram adotadas no caso de Cincinatti: "Mantenha faíscas, chamas e outras fontes de ignição longe. (...) Usar água em forma de neblina para abater os vapores".

Fazendo uma rápida simulação utilizando o software ALOHA, considerando a liberação dos 90 metros cúbicos do vagão em um minuto, seguido de explosão de nuvem de vapor temos que a onda de choque pode provocar ferimentos sérios até 912 metros do epicentro da explosão:
 THREAT ZONE:
   Threat Modeled: Overpressure (blast force) from vapor cloud explosion
   Type of Ignition: ignited by spark or flame
   Level of Congestion: congested
   Model Run: Heavy Gas
   Red   : LOC was never exceeded --- (8.0 psi = destruction of buildings)
   Orange: 912 meters --- (3.5 psi = serious injury likely)
   Yellow: 1.1 kilometers --- (1.0 psi = shatters glass)



Se considerarmos o cenário de liberação sem incêndio imediato, a mesma simulação indica uma área com risco de incêndio de até 1,1 Km.
 THREAT ZONE:
   Threat Modeled: Flammable Area of Vapor Cloud
   Model Run: Heavy Gas
   Red   : 861 meters --- (11000 ppm = LEL)
   Orange: 1.1 kilometers --- (6,600 ppm = 60% LEL = Flame Pockets)
   Yellow: 2.1 kilometers --- (1,100 ppm = 10% LEL)



Para o caso improvável da liberação do produto e dispersão sem incêndio, a concentração imediatamente perigosa a vida e saúde (IPVS) pode chegar a 2,4 Km:
 THREAT ZONE:
   Model Run: Heavy Gas
   Red   : 2.4 kilometers --- (700 ppm = IDLH)



Embora as simulações contenham muitas variáveis que dimunem muito a exatidão do resultado, os números sugerem que o raio de evacuação poderia ser aumentado a critério do Comandante do Incidente.

Felizmente, nenhuma explosão ocorreu, o produto químico não foi liberado de uma só vez e as pessoas foram evacuadas para uma distância segura. A válvula de segurança fez o trabalho que foi projetada para fazer, isto é, liberar o acúmulo de pressão excessiva lentamente evitando uma explosão catastrófica. O erro que deve ter causado o acidente foi deixar o vagão parado durante nove meses, período durante o qual o inibidor de polimerização perdeu sua função.

A resposta não permitia ações ofensivas para sanar o problema, pois colocariam os socorristas em risco elevado. A resposta foi correta, tomando-se as medidas defensivas como evacuação, isolamento e resfriamento/abate de vapores por canhões monitores sem operação humana.

sábado, 17 de março de 2012

Emergências químicas: polimerização descontrolada


Os polímeros são uma parte essencial da vida moderna. Os exemplos incluem os muitos plásticos, borracha sintética, Teflon®, polietileno, poliésteres, nylon, rayon, e até mesmo a cola de PVA ou cola branca. A natureza também produz os seus próprios polímeros, tais como proteínas e amidos. Os polímeros são moléculas muito grandes formadas por partes menores chamadas monômeros. O processo de juntar as partes menores para formar a molécula muito grande é chamado de polimerização. 




Polimerização acidental em tambor. ( http://www.hazmatmike.com/ )
Na indústria química, muitos polímeros são produzidos através de reações em cadeia. Nestas reações de polimerização, os radicais livres necessários para iniciar a reação são produzidos por um iniciador que é uma molécula capaz de formar radicais livres a temperaturas relativamente baixas. Os radicais assim formados vão atacar as moléculas do monômero dando origem à reação de polimerização.


Uma grande quantidade de calor pode ser libertada na fabricação de polímeros sintéticos . A reação também pode ocorrer rapidamente, mesmo em um segundo. A rápida liberação de calor pode vaporizar o monômero ou outros materiais inflamáveis, resultando em uma nuvem de vapor explosivo. O acúmulo de gases inflamáveis pode explodir o vaso de reação ou recipiente, ou se os vapores são liberados por uma válvula de segurança, uma faísca pode inflamar os vapores, criando uma explosão de nuvem de vapor. Durante a fabricação de polímeros a liberação de calor é controlada pela adição lenta dos reagentes de acordo com procedimentos estabelecidos e por resfriamento do reator. Mesmo assim, às vezes os sistemas falham, resultando em acidentes industriais.


Nessa postagem vamos nos deter mais nos aspectos técnicos e examinar a situação em que certos produtos químicos podem "auto polimerizar" em armazenamento ou durante o transporte. A liberação de calor pode vaporizar o produto químico, resultando em uma explosão. O iniciador pode ser contaminação por ferro ou outro metal ou ainda um peróxido produzido a partir de exposição do produto químico à luz solar ou a umidade.


Auto polimerização em vagão tanque - EUA, 2005


Em 28 de Agosto de 2005, cerca de cinco horas da tarde, uma nuvem branca de vapor foi observada escapando de um vagão tanque de trem estacionado perto de Cincinnati, EUA. Pela sinalização do vagão e informação fornecida pela via férrea, o conteúdo foi identificado como cerca de 90 metros cúbicos de monômero de estireno. Uma válvula de segurança na parte superior do tanque abrira permitindo que o gás escapasse. A população num raio de 800 metros ao redor do tanque foi evacuada. Dois policiais foram hospitalizados e depois liberados após terem inalado o gás. Não houve relatos de lesões adicionais.




A abertura de uma válvula de segurança requer um aumento da pressão interna, assim pode-se assumir que uma reação exotérmica tinha tido lugar dentro do tanque. No caso de estireno, uma reação bem conhecida é a polimerização de estireno ao poliestireno. Um estabilizador como 4-terc-butil-catecol (TBC), o que impede de polimerização, é geralmente adicionado ao estireno para o transporte e armazenamento. Para o TBC ser eficaz, é necessário que uma determinada concentração de oxigênio é dissolvido na solução de estireno e TBC. Entre 10-15 ppm TBC é adicionado estireno. Sob condições ideais, 10-15 ppm TBC estabiliza estireno durante cerca de 3 meses. O TBC pode ser usado até mais rápido de acordo com a concentração de oxigênio, temperatura, umidade, ferrugem ou outras impurezas no tanque. Além disso, uma concentração de oxigênio mínimo de 10 ppm e, preferencialmente, de 15-20 ppm é necessário.


Segundo a imprensa, o vagão tanque estava parado no local do acidente há 9 meses. Devido a este período prolongado, a polimerização é susceptível de explicar o aumento da pressão.


Em outras postagens, vamos voltar a analisar as emergências químicas, inclusive aquelas envolvendo o risco de polimerização.

terça-feira, 13 de março de 2012

Síndrome do Desastre

A Revista CIPA de março de 2012 publicou um artigo de minha autoria sobre a "Síndrome do Desastre" - a crença de que as vítimas de um desastre são completamente impotentes e dependentes de ajuda externa. Gostaria de sugerir a leitura, se tiverem oportunidade, e gostaria muito de ouvir seus comentários. 

sexta-feira, 9 de março de 2012

Crianças em emergências

Muitas vezes, no planejamento de emergências, as crianças são consideradas como adultos em miniatura ou simplesmente esquecidas. Porém, do ponto de vista da sobrevivência, as crianças devem ser consideradas como funcionalmente diferentes dos adultos, devido ao seu estágio de desenvolvimento neurológico e cognitivo. Crianças terão mais dificuldade em utilizar sistemas de emergência e precisarão de ajuda de um adulto nesse caso.

No pior dos casos: a SWAT de Seattle treina a retomada de uma escola em ocorrência de atirador ativo.
( http://www.westseattleherald.com/  )

Conforme nota o Professor John Leach, essa situação pode ser minimizada com a instrução sobre emergências nas escolas. Além disso, as crianças adotam muito mais facilmente uma cultura de segurança e preparação para emergências.

A Revista Incêndio, na sua edição 16, publicou uma matéria interessante sobre a preparação das crianças para incêndios. Alguns trechos:

“(...) Não queremos que as crianças combatam focos de incêndio – longe disso. Queremos que elas apenas saibam como preveni-los, como dar um alarme e como escapar com segurança.

A experiência nas escolas americanas em relação ao escape em caso de incêndio é muito positiva. Deveria ser analisada e adaptada à nossa realidade. Lá, uma vez por semestre é acionado o alarme contra incêndio. Nesse momento, as crianças mais próximas das janelas as fecham, é formada uma fila, é verificada qual é a rota de escape mais próxima numa planta que fica permanentemente dentro da sala, procede-se o escape e há um ponto de encontro externo, onde as crianças aguardam o final da simulação. Tudo com seriedade, e ao mesmo tempo, tranquilidade. Não há mal em copiar boas ideias. É nossa obrigação ensinar e conscientizar os pequenos.

O fogo é um processo físico-químico. Por que não envolver o professor de ciências numa aula sobre incêndio? A “brincadeira” Pare! Deite! Role! (ações que devem ser tomadas quando a roupa pega fogo) é um ótimo exercício.
E os adolescentes? Essa faixa etária é terrível! Frequentam teatros, cinemas, boates que, com honrosas exceções, tem suas saídas de emergência mal sinalizadas, bloqueadas ou trancadas. Fica como proposta que as escolas, como entidades organizadas para educar com metodologia, tomem para si esta nossa obrigação. Uma aula sobre fogo, uma simulação de incêndio, são atividades que irão apenas acrescentar (...)”

Outro exemplo de preparação de crianças para emergências pode ser visto no vídeo português abaixo:



O investimento na preparação das crianças para emergências, além da óbvia vantagem de protegê-las caso algo ocorra, pode tornar nossa sociedade mais resiliente em longo prazo. 

sexta-feira, 2 de março de 2012

A preparação das empresas para desastres naturais - parte 2


Um pouco de estatística


No post de 24 de fevereiro, abordamos a questão de preparação das empresas para desastres naturais. Vimos que a Falácia de Monte Carlo desempenha um papel importante quando não uma empresa não se prepara para um desastre natural do mesmo tipo de algum que já tenha acontecido, por julgar improvável demais que o evento se repita. Aprofundando um pouco nesse assunto, aproveitaremos uma questão levantada pelo professor de psicologia evolucionista na Universidade de Harvard Steven Pinker, no livro "The Better Angels of Our Nature: Why Violence Has Declined".


Suponha que sua empresa esteja localizada em um local que tenha uma probabilidade constante de ser atingida por um raio ao longo do ano. Suponha que os raios sejam aleatórios e que todos os dias tenham a mesma probabilidade, de uma em um mês. A empresa é atingida hoje, sexta-feira. Qual o dia mais provável para a empresa ser atingida novamente? Ao contrário do que muitos diriam, a resposta correta é amanhã, sábado. A probabilidade é pequena, aproximadamente 0,03 (cerca de uma vez ao mês).



O exemplo da queda do raio ajuda a desmontar a Falácia de Monte Carlo.


Vamos examinar agora a probabilidade de que o próximo raio caia depois de amanhã, domingo. Para que isso aconteça, são necessários dois fatos. Primeiro, o raio deve cair no domingo, probabilidade de 0,03. Além disso, o raio não pode cair no sábado. Para calcular essa probabilidade, deve-se multiplicar a chance do raio não atingir a empresa no sábado (0,97 ou 1 menos 0,03) pela chance da empresa ser atingida no domingo (0,03), o que dá 0,0291, um pouco menor que a probabilidade do sábado.


Para a empresa ser atingida na segunda-feira, o raio não pode atingi-la no sábado (0,97) e nem no domingo (0,97 novamente), mas deve cair na segunda, o que dá 0,97 x 0,97 x 0,03, o que dá 0,0282, probabilidade ainda menor. A probabilidade cai dia a dia, exponencialmente. A chance que que o próximo raio caia somente daqui um mês, é de 0,9729 x 0,03, pouco maior que 1%.


Embora os desastres naturais não sejam totalmente aleatórios e nem tenham probabilidade constante ao longo do tempo, o exemplo serve para desmentir a Falácia de Monte Carlo e alertar que desastres naturais podem ocorrer mais de uma vez. 


Negação




Andrew Westen, professor nos Departamentos de Psicologia e Psiquiatria na Emory University de Atlanta, EUA, pontua que a maior parte das pessoas nega o que sabem ser verdade, porque estão mais preocupadas com prazeres de curto prazo do que com consequências de longo prazo que podem ser dolorosas. Em uma empresa, isso se manifesta nas decisões voltadas a maximizar os ganhos para os acionistas em curto prazo, do que decisões para gerar valor estratégico em longo prazo.

Assim, faz-se de conta que desastres naturais não irão ocorrer e não se investe na preparação.


Ameaças e riscos

É possível diminuir as vulnerabilidades relacionadas aos desastres naturais, investindo na preparação e, assim, aumentado as probabilidades de sobrevivência e sucesso da empresa em longo prazo.

Após a identificação das ameaças, pode ser necessário um trabalho de convencimento da direção da empresa para correta compreensão da situação e execução das medidas necessárias. Para isso, o risco deve ser comunicado de maneira adequada. O estudo da FM Global coloca um exemplo interessante. Quando se fala em um evento do tipo 1 a cada 100 anos, pensamos que é extremamente improvável e que não irá ocorrer durante nossa carreira. Porém, a probabilidade de ocorrência de um evento desses em 30 anos é de 26%. O que é mais convincente para um alto executivo: dizer que uma inundação do tipo 1 em 100 anos pode atingir a empresa ou que há 26% de probabilidade da empresa ser atingida por uma inundação maior na vida útil de uma unidade?

Um caso de sucesso na preparação para desastres naturais é o da Continental Airlines. Durante o Furacão Ike, em 2008, a empresa se viu forçada a fechar seu centro de operações em Houston. Porém, a empresa havia se preparado e mantinha um centro de operações alternativo a cerca de 80 km. Como resultado, 84,1% dos voos chegaram no horário e apenas três foram cancelados por causa do furacão.

 O Furacão Ike se aproximando de Houston.

As empresas não precisam ser vítimas dos desastres naturais. É uma questão de correta identificação e comunicação dos riscos e preparação para diminuir as vulnerabilidades.