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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Mais sobre o viés de normalidade: acidentes aéreos e ataques de zumbis


No post de 6 de janeiro de 2012, abordei o chamado "viés de normalidade", a tendência de acreditarmos que tudo está bem, embora muitas vezes não esteja.

Há pouco, o assunto apareceu na mídia, embora indiretamente. Um dos casos foi o acidente da Asiana Airlines em São Francisco, abordado no post de 10 de julho. Embora com três fatalidades, um número enorme de passageiros de salvaram. Um dos fatores de levaram a esse resultado foi a ação tomada pela tripulação (e pelos passageiros) vencendo a sensação de normalidade e agindo decisivamente para a sobrevivência. Como disse a jornalista Amanda Ripley no seu blog, "sobreviventes, de todos os tipos de desastres, tipicamente não aguardam por instruções. Eles agem".

O ponto também foi abordado através de um meio relativamente inesperado, o filme "Guerra Mundial Z". Em certo ponto, o agente secreto israelense Jurgen Warmbrunn, no filme interpretado por Ludi Boeken, falando sobre como Israel conseguiu se preparar para a "pandemia de zumbis", afirma que “a maior parte das pessoas não acredita que algo possa ocorrer até que realmente tenha ocorrido. Isso não é estupidez ou fraqueza, é somente a natureza humana. Eu não culpo ninguém por não acreditar”. É a definição exata do viés de normalidade.

Nas cenas iniciais do filme, o viés de normalidade é exemplificado (com exagero, é claro). O ex-investigador da ONU Gerry Lane, interpretado por Brad Pitt, está com sua esposa e filhas no carro, em um congestionamento na cidade de Filadélfia. O clima é tranquilo e a família conversa animadamente, quando se percebe que algo está errado, com correria, movimentação policial e explosões ao longe. O interessante aqui é observar como Gerry entra rapidamente no “modo de emergência”, processando a reviravolta na situação e tomando ações decisivas e imediatas (veja o vídeo no link abaixo):
 
 
Conforme abordado em 6 de janeiro de 2012, por um lado, as pessoas em situação de emergência são submetidas a estímulos, que podem ser avisos por meios de comunicação em massa, alarmes de emergência, sinais que a situação está errada (fumaça, ruídos ou outros) ou ainda a uma combinação desses estímulos e, por outro lado, o viés de normalidade leva os expostos à situação de emergência a acreditarem que tudo está bem. Esses pensamentos paradoxais criam uma dissonância cognitiva que as pessoas tentam eliminar através de duas maneiras: ou aceitando os avisos e abandonando a área de perigo ou ignorando esses avisos e tentando manter a normalidade. Obviamente, esse segundo comportamento pode ter consequências funestas.

No filme, o herói resolve a dissonância aceitando os avisos e salvando sua família do que se mostrou um dos primeiros ataques dos zumbis na história.

Uma nota sobre preparação para emergências e zumbis: embora não seja muito do meu gosto, várias agências dos EUA e Canadá aproveitam o tema de ataque de zumbis para a educação para emergências. Quem quiser pode conferir em http://www.cdc.gov/phpr/zombies.htm.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

O acidente com o Boeing 777 da Asiana Airlines em São Francisco: sobrevivência

"Este avião é dotado de oito saídas de emergência, sendo duas portas na parte dianteira, quatro janelas sobre as asas e duas portas na parte traseira. Localize a saída mais próxima, que pode estar atrás de você. Em caso de pouso na água..." e assim segue o briefing de segurança de um voo de passageiros. Enquanto o filme é exibido ou os comissários gesticulam, a maior parte dos passageiros está preocupada lendo o jornal, conversando ou dormindo. Ao fazer isso, diminuem e muito sua chance de sobreviver em caso de acidente.

Embora duas jovens tenham perdido a vida, o acidente com o Boeing 777 que fazia o voo OZ 214 da  Asiana Airlines em São Francisco no sábado, apesar de impressionante, mostrou que é possível escapar com vida de um acidente aéreo. Das 307 pessoas a bordo, 305 se salvaram, algumas com ferimentos. De acordo com a National Transportation Safety Board (NTSB) dos Estados Unidos, 95% dos passageiros envolvidos em acidentes aéreos sobrevivem. Embora grande parte das chances de sobrevivência se devam a um bom treinamento e atuação firme da tripulação, além de uma boa dose de sorte (ou ajuda divina), ainda assim os passageiros devem fazer sua parte.

Boeing 777 acidentado, mostrando estrago na cabine e os "escorregadores" para abandono. (www.theblaze.com)

Algumas coisas são relativamente conhecidas, como saber onde estão as saídas de emergência. Conforme coloca a jornalista Amanda Ripley no seu blog, isso deve ser feito antes de um eventual acidente. Embora pareça óbvio, muitas pessoas não se preocupam com isso até a hora em que precisem usar a informação. Acontece que esse momento - a emergência - é o pior possível para tentarmos aprender algo novo.

Jeff Wise, no livro "Extreme Fear", descreve uma experiência feita pelo exército dos Estados Unidos, que mostra a degradação da capacidade mental em momentos de grande stress. Em resumo, um grupo de recrutas foi conduzido a um avião militar de transporte sob o pretexto de fazer um teste sobre habilidades motoras. Após a decolagem, um psicólogo do exército deu alguns formulários para completarem. Assim que terminaram, o avião começou a apresentar problemas mecânicos e cair - tudo simulado, é claro, mas os recrutas não sabiam. Eles foram instruídos a preencherem alguns formulários do seguro, que seriam colocados em uma cápsula resistente, para que seus familiares pudessem receber indenizações quando morressem no acidente. Após preencherem os formulários - na verdade, testes psicológicos - o avião pousou em segurança. A experiência, feita em 1962, certamente não seria permitida nos dias de hoje, por motivos éticos. Apeser disso, confirmou a queda na capacidade mental em situações de emergência: os recrutas no avião cometeram até três vezes mais erros que o grupo de controle que fez o mesmo teste em solo.

Aviões semelhantes aos utilizados na experiência de 1962. (www.wrecksite.eu)

Outras orientações para a sobrevivência em um acidente aéreo são deixar para trás malas e outros pertences - o que não foi feito totalmente no caso do voo 214 - e seguir as instruções da tripulação.

Passageiros abandonando o avião acidentado com suas malas. (www.cnn.com)

Voltarei ao assunto em outro post futuro, abordando outros fatores que podem influenciar a sobrevivência em um acidente aéreo.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Manifestações e recursos escassos de emergência

Um dos pontos que abordei nas postagens anteriores, como distribuir recursos sempre escassos de atendimento de emergências, já tem mostrado consequencias tristes. No dia 24 de junho, marginais promoveram um arrastão na Avenida Brasil, no Rio, parada por causa de um "protesto pacífico". O BOPE foi acionado e, sem planejamemto prévio, com efetivo reduzido e cansado - por causa da atuação nas manifestações - adentrou a favela da Maré, em perseguição aos criminosos. Resultado: dez mortos, entre eles um policial e pelo menos dois moradores inocentes.

Congestionamento na Rodovia Castello Branco, por conta de mais um protesto. (http://noticias.r7.com)

As manifestações continuam. Ontem foi o dia dos caminhoneiros bloquearem rodovias em vários estados, incluindo três em São Paulo. Parece que os governos (federal e estaduais) abdicaram de fazer cumprir a lei, para cumprir uma agenda política e fomentada por uma cobertura parcial da imprensa.

Atualização em 03/07: O Governo Paulista recorreu à Justiça, que proibiu o bloqueio das estradas: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/justica-proibe-bloqueio-de-rodovias-em-sp/

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Mais sobre as manifestações

No post de 20 de junho escrevi alguns tópicos relacionados às manifestações vistas nas ruas do país. Agora, passado pouco mais de uma semana, as manifestações parecem ter diminuído (embora também pareçam longe de acabar) e vale a pena rever os tópicos que coloquei:

- Envolvimento direto do Exército para proteção da Presidente da República. Aparentemente não teve maior repercussão, até por conta da postura tomada pela Presidência de "ouvir a voz das ruas".

- "Preparação" das autoridades brasileiras para enfrentar qualquer tipo de situação durante a Copa das Confederações. Ainda não vimos acontecer. Talvez a prova de fogo (esperamos que não) seja a final no Maracanã no domingo.

- Como lidar com a crise de comunicação. Infelizmente, grande parte da imprensa esqueceu o que é uma cobertura imparcial e continua deslumbrada com os acontecimentos.

- Como balancear o direito de manifestação com o direito de ir e vir e direito à propriedade e como distribuir recursos sempre escassos de atendimento de emergências. Até por causa da pressão da imprensa, os governos - em linhas gerais - decidiram colocar o direito de manifestação acima de qualquer outro. Bem ou mal (eu creio que mal), o dilema foi resolvido.

- Uso das redes sociais. Mostrou-se vital para a mobilização das manifestações. Já as autoridades estão aprendendo a utilizar, mas ainda distantes do que poderiam fazer.

A situação ainda está longe de acabar. Vamos continuar acompanhando.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Manifestações nas ruas

Nosso país passa por um momento tenso e provavelmente inédito, com milhares e milhares de pessoas saindo às ruas para protestar - em princípio, com razão - contra inúmeras situações, por vários dias consecutivos. Os protestos acontecem desde as cidades principais do país, como São Paulo e Rio de Janeiro, até cidades menores, como Silva Jardim, no Rio de Janeiro, com cerca de 22 mil habitantes.

"Manifestantes" enfrentam o Caveirão do BOPE no Rio de Janeiro. (http://g1.globo.com/)


Esse movimento social é extremamente complexo e recente e não vou me atrever a tentar fazer uma análise mais profunda. Apesar disso, gostaria de salientar alguns pontos relevantes para o Gerenciamento de Emergências:

- Envolvimento direto do Exército para proteção da Presidente da República.

- Apesar da propaganda prévia da "preparação" das autoridades brasileiras para enfrentar qualquer tipo de situação durante a Copa das Confederações (ver postagem de 8 de maio), não foi isso que foi visto quando o simulado virou situação real.

- Do ponto de vista das autoridades, como lidar com a crise de comunicação, quando a imprensa, com raras exceções, está totalmente deslumbrada e tendenciosa quanto às manifestações.

- Ainda do ponto de vista das autoridades, como balancear o direito de manifestação com o direito de ir e vir e direito à propriedade de outros, principalmente quando as forças de segurança estão sob observação minunciosa (e tendenciosa).

- Embora o tema domine totalmente a imprensa, outros crimes continuam ocorrendo, pessoas continuam necessitando de ambulâncias, polícia e bombeiros. Como distribuir recursos sempre escassos de atendimento de emergências nessas situações?

- Mais uma vez, a importância e efetividade das redes sociais fica evidente, por parte dos manifestantes. Por parte das autoridades, isso parece que ainda não foi totalmente percebido. Por exemplo, o Twitter da Secretaria de Segurança de São Paulo e da CET do Rio ignorou totalmente as manifestações. Já a CET de São Paulo usou o microblog para atualizações em tempo real das condições do trânsito. A Secretaria de Segurança do Rio ficou em uma posição intermediária, colocando orientações, mas não em tempo real.

Vamos continuar acompanhando esse momento histórico e ver que lições podemos aprender.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

O atentado de Boston e o terrorismo no Brasil

O atentado de 15 de abril na Maratona de Boston trouxe para a imprensa várias matérias sobre a preparação do Brasil para enfrentar ameaças terroristas, em especial com a aproximação da Copa das Confederações e a visita do Papa Francisco I, sem falar na Copa do Mundo e nas Olimpíadas. A maior parte das reportagens mostra a “preparação” do nosso país para enfrentar a ameaça terrorista com as mesmas imagens: atiradores de elite, equipes táticas com suas roupas negras e miras laser, roupas de proteção contra agentes químicos e biológicos.(1) (2)


Treinamento de policiais do BOPE do Rio de Janeiro. (http://noticias.uol.com.br/)

Embora o Brasil não seja um alvo prioritário de terroristas internacionais, a presença de milhares de turistas estrangeiros e a cobertura da imprensa nos eventos futuros, torna a possibilidade de ataque mais alta.

O Brasil estará realmente preparado para a potencial ameaça terrorista quando cuidar adequadamente dos mais de 17 mil Km de fronteiras terrestres e 8 mil Km de fronteiras marítimas, impedindo a entrada de armas ilegais (entre outras coisas) e controlando o fluxo de pessoas. Estaremos preparados quando as autoridades conseguirem controlar o comércio, armazenagem e uso de explosivos, pois os artefatos que destruíram dezenas e dezenas de caixas eletrônicos são os mesmos que podem ser usados em uma bomba terrorista.

Quando a cultura do "If You See Something, Say Something"(3), isto é, reportar às autoridades atos suspeitos estiver enraizada em nossa população, estaremos preparados. Para isso, precisamos de cidadãos conscientes e, de outro lado, autoridades que não considerem os “cidadãos comuns” apenas como vítimas ou idiotas (ou os dois) e nos ouçam e ajam rapidamente. Basta lembrar que em 2010, a polícia de Nova Iorque evitou um atentado a bomba na Times Square graças ao aviso dado por um vendedor ambulante.(4)


Nosso país estará preparado quando grandes cidades tiverem se planejado e treinado para catástrofes, com fez a cidade de Boston e foi mostrado na revista New Yorker.(5)

Esses são apenas alguns dos inúmeros aspectos que se entrelaçam de modo complexo e devem ser levados em conta na questão do terrorismo.

É claro que equipes táticas bem selecionadas, treinadas, equipadas e motivadas são peças importantíssimas nos esforços de contraterrorismo de qualquer país. Mas só isso não basta.

(1) http://revistaepoca.globo.com/Brasil/noticia/2013/04/terrorismo-pode-acontecer-aqui.html
(2) http://g1.globo.com/brasil/noticia/2013/04/exercito-tera-600-militares-contra-terrorismo-nas-confederacoes.html
(3) http://www.dhs.gov/if-you-see-something-say-something-campaign
(4) http://g1.globo.com/mundo/noticia/2010/05/policia-de-nova-york-desarma-bomba-em-carro-na-times-square.html
(5) http://www.newyorker.com/online/blogs/newsdesk/2013/04/why-bostons-hospitals-were-ready.html



segunda-feira, 29 de abril de 2013

Avaliação inicial - Size-up

Nesta postagem, gostaria de analisar alguns conceitos da resposta a emergência e fazer algumas referências a situações emergenciais vividas recentemente, porém sem a menor intenção de fazer um julgamento definitivo sobre as ações tomadas nas ocorrências.

A resposta a um incêndio ou outro tipo de emergência se inicia com uma avaliação inicial da situação (em inglês, “size up”). A National Fire Protection Association – NFPA define "size-up" como um processo sistemático de obtenção de informação e avaliação da situação que se inicia quando o alarme é recebido.[1] Esse processo leva ao desenvolvimento de um plano de ação para o incidente, que deve ser um plano dinâmico, isto é, deve mudar se a situação assim o exigir. Infelizmente, a avaliação inicial se inicia no pior momento possível, quando as informações necessárias são escassas, se não impossíveis de obter. O Comandante do Incidente (IC) deve muitas vezes iniciar as operações com informações imprecisas e incompletas – um verdadeiro pesadelo para um gestor.[2]

No incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, na madrugada de 27 de janeiro, não foi diferente. A revista Emergência no. 47 publicou uma extensa matéria sobre a tragédia e, em pelo menos duas entrevistas, os socorristas definem a cenário encontrado com a mesma palavra: caos. É possível imaginar a dificuldade do comandante inicial da operação para realizar a avaliação inicial e elaborar o plano de resposta.

Você é o primeiro chegar no local. Como avaliar a situação rapidamente e elaborar um plano de ação? (Foto: arquivo pessoal)


Outra ocorrência recente e polêmica foi o “esquecimento” de três vítimas de um acidente debaixo de um caminhão, que havia caído em uma ribanceira em Amparo, interior de São Paulo. Os socorristas retiraram o caminhoneiro, mas não viram que debaixo do caminhão havia um carro, com as vítimas presas nas ferragens. As vítimas foram resgatadas apenas 13 horas depois e duas delas vieram a óbito. [3] Claro que as condições do socorro inicial não eram nem um pouco favoráveis, mas em um cenário de acidente uma avaliação inicial cuidadosa pode fazer com que os socorristas tenham um melhor direcionamento dos esforços, permitindo uma atuação mais efetiva.

Outro fator que vai contra um correto size-up é a percepção de que a ação parece é sempre o correto a se fazer na cena da emergência, enquanto o planejamento é interpretado como um atraso na ação.

Existe uma série de fatores que atrapalham a realização da avaliação inicial, porém ela é de vital importância para as ações que irão se seguir e para o sucesso da operação.



[1] IAFC. “Industrial Fire Brigade: Principles and Practice”.
[2] Texas A&M Engineering Extension Service (TEEX). “Industrial Fire Brigade - Interior (NFPA 1081)”.

terça-feira, 16 de abril de 2013

Atentado na Maratona de Boston

O terrível atentado de ontem contra espectadores e atletas da Maratona de Boston ainda é muito recente, mas alguns fatos relacionados à emergência já podem ser identificados.

Socorristas no atendimento às vítimas do atentado. (www.npr.org)


Como ocorre em eventos desse tipo e mais uma vez desmentindo a "Síndrome do Desastre", uma parcela importante do socorro prestado às vítimas, especialmente nos primeiros momentos, veio dos próprios espectadores, atletas e membros da organização da corrida. Novamente, os envolvidos mostram-se como um recurso importante e não somente como "vítimas".

Outra tendência que se confirma é a importância cada vez maior das redes sociais. Por exemplo, com a sobrecarga dos sistemas de telefonia celular nos momentos que se seguiram às explosões, era impossível realizar ligações. Várias pessoas usaram então o Twitter e o Facebook, entre outras,  para atualizarem suas informações, avisando família e amigos que estavam bem. Outro uso importante foi feito pelas autoridades, como o Departamento de Polícia de Boston, a fim de divulgar informações o mais rapidamente possível.

Os próprios investigadores do atentado informaram que irão usar as imagens feitas por cidadãos comuns, como aquelas postadas nas redes sociais, para ajudar na identificação dos criminosos.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Morte no jogo do Corinthians na Bolívia

Em um triste e evitável episódio, o adolescente Kevin Espada, de 14 anos, torcedor do San José, foi morto nesta quarta-feira (20/02) a quando um rojão acertou seu olho direito durante o empate por 1 a 1 com o Corinthians, em Oruro, na Bolívia, pela Copa Libertadores da América.
 
Do ponto de vista da Comunicação de Crises, o Corinthians começou relativamente bem: "A direção do Sport Club Corinthians Paulista lamenta profundamente a morte de um torcedor na partida contra o San José na noite da última quarta-feira (20) e se coloca à disposição para ajudar no que for possível, mesmo sabendo que nada apagará a dor causada pelo incidente", publicou o clube em nota oficial.

Tragédia em Oruro. (http://www.foxsports.com.br/)

 
Porém, hoje de tarde, o presidente do Corinthians, Mário Gobbi, deixou a desejar na comunicação no meio da crise.
 
“Presume-se que é uma fatalidade. Exceto que provem o contrário, que alguém, identificado, usou de um artifício para dolosamente atingir outra. Ou tem essa prova que fulano de tal usou um artifício de fogos para atingir outrem ou é uma fatalidade”, disse em um tom de voz não muito confiante.
 
Além de usar uma linguagem não muito comum ("artifício de fogo", "atingir outrem"), enveredou pelo caminho da isenção da culpa, apelando para a famosa "fatalidade". Apenas para esclarecer, a palavra pode significar "destino inevitável", "coincidência deplorável", "acaso infeliz, funesto". Isto é, ninguem teve culpa, o que claramente não é o caso. Como em todo fato assim, a perda da vida do jovem foi o resultado de várias causas interligadas, que esperamos que sejam esclarecidas.
 
O diretor de futebol do clube também declarou que “pelos relatos não houve nenhum confronto antes do incidente. As torcidas estavam juntas, em harmonia. Se um sinalizador, que eu não sabia, é uma arma letal, a responsabilidade é da polícia e da segurança do estádio que permitiu que isso acontecesse, não do Corinthians”, também colocando a culpa nos outros.
 
Normalmente, essa não é uma postura adequada para comunicação em caso de crises, embora seja muito comum. Não é possível ainda determinar se a crise, e em especial sua comunicação, vai causar algum dano ao clube, mas vale a pena prestar atenção, lembrando que como em todos os outros aspectos do gerenciamento de emergências, o planejamento e o treinamento fazem a diferença entre o sucesso e o fracasso na comunicação de crise.

Fontes:

domingo, 27 de janeiro de 2013

O incêndio em Santa Maria

O incêndio na boate Kiss na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul, ocorrido na madrugada de hoje é uma tragédia que choca o país e o mundo. Até este momento, o número de vítimas é de 233 mortos e 106 feridos. Como em outros casos discutidos aqui neste blog, o assunto ainda é recente e ainda há muito a se apurar, mas algumas fatos já podem ser observados do ponto de vista do Gerenciamento de Emergências, em algumas de suas quatro fases: prevenção (também chamada de mitigação), preparação, resposta e reconstrução.

A falta de controle dos materiais de construção e acabamento utilizados no local e que permitiram a rápida propagação do incêndio e a emanação de fumaça tóxica, o uso de pirotecnia em um ambiente fechado e a possível superlotação do local são falhas da fase de prevenção. Embora o evento tivesse uma classificação etária de 18 anos, a imprensa noticiou que as vítimas fatais têm a partir de 16 anos, o que indica que o controle de entrada não era tão rígido quanto o necessário.

Já na fase de preparação, a imprensa tem salientado bastante as possíveis falhas. Dimensionamento e sinalização incorreta das saídas de emergência, ausência de brigada de incêndio e de bombeiros profissionais civis e a clara falta de planejamento de emergência. Por exemplo, aparentemente, os seguranças não tinham o menor preparo para uma situação dessa e nem um sistema de comunicação eficiente, tanto é que inicialmente os seguranças tentaram barrar a saída do público, temendo um calote, obviamente porque não tinham a menor noção do que estava acontecendo. Isso lembra a tragédia do incêndio no supermercado Ycuá Bolaños, em Assunção, Paraguai, em 2004. Infelizmente, como em inúmeros outros fatores da tragédia gaúcha, havia lições do passado que não foram aprendidas.

Prevenção e preparação são as fases onde ficam mais claras as falhas de fiscalização do Poder Público em permitir a realização de evento dessa magnitude em local não adequado. O Especialista em Gerenciamento de Riscos, Planejamento de Emergências e Catástrofes tecnológicas Moacyr Duarte de Souza Junior fez uma interessante análise do assunto hoje na Globo News, salientando que uma inspeção de segurança de duas horas de duração teria evitado a tragédia.

Resposta ao incêndio em Santa Maria. (http://g1.globo.com/)

A TV mostrou imagens do atendimento ao incêndio: além dos bombeiros, policiais e tripulantes de ambulâncias, muitas pessoas não uniformizadas, sem equipamento de segurança algum, algumas sem camisa, participavam dos esforços de resgate. Algumas tentavam demolir uma parede com ferramentas manuais. Aparentemente,na fase de resposta, houve falta de coordenação dos recursos (oficiais e voluntários), coisa que a aplicação do Sistema de Comando de Incidentes (ICS) poderia minimizar.

Quero deixar claro que não critico os socorristas que participaram da operação. Enquanto eu escrevo depois dos fatos, sentado em meu sofá, eles tiveram que enfrentar fogo, fumaça e toda carga emocional da tragédia, atuando com recursos limitados e informações incompletas. Não sei também se os orgãos de emergência da cidade de Santa Maria algum dia imaginaram enfrentar um desastre dessas proporções. Porém, na fase de planejamento (agora, por parte do Poder Público), isso deveria ter sido equacionado. Essas possíves deficiências no planejamento público e coordenação de recursos disponíveis não são de modo algum exclusividade da cidade de Santa Maria ou do Rio Grande do Sul.

A fase de recuperação ainda é incipiente. Alguns contatos para doação de sangue e para participação de trabalhadores voluntários podem ser encontrados na página do G1: http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2013/01/saiba-como-ajudar-vitimas-e-familias-do-incendio-em-santa-maria.html.

Outro fato digno de nota é o uso das redes sociais, tanto para comunicação dos sobreviventes para tranquilizarem familiares e amigos, como também para algumas postagens com informações erradas, como de fotos de frequentadores do local, tiradas em dias anteriores e divulgadas como tendo sido feitas no dia da tragédia.

Infelizmente, esse desastre - pelo menos com essas proporções - foi totalmente evitável. A cada noite, dezenas ou talvez centenas de casas noturnas, nos mais variados locais do país, funcionam em condições iguais ou até piores do que a Kiss. Resta saber se vamos aprender as lições dessa vez e evitar novas tragédias assim.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Sistema de alerta contra inundações nos EUA

O problema das inundações, que castiga a cidade de Duque de Caxias, entre outras, não é uma exclusividade dos países em desenvolvimento. A revista Emergency Management Magazine de setembro de 2012 publicou uma matéria sobre o sistema de alerta de inundações da cidade de Austin, no Texas, Estados Unidos.

http://austintexas.gov/

O sistema americano é o FEWS — Flood Early Warning System, ou Sistema de Aviso Antecipado de Inundação. O sistema iniciou sua operação em 1985, em uma forma pouco amigável, que trazia apenas números para que os operadores interpretassem o risco de inundação. Em 2008, passou por uma modernização, que encerrou-se em 2010.

O sistema atual integra entradas de informação de diferentes fontes, como dados do radar doppler do National Weather Service e de pluviômetros em terra, calculando e gerando a cada 15 minutos mapas precisos das áreas com risco de inundação, com uma antecedência de até 6 horas. Baseados nesses mapas, as autoridades podem ordenar evacuações ou interditar vias, ou ainda informar o Corpo de Bombeiros da cidade para um planejamento eficaz da resposta necessária.

Um dos pontos fracos do sistema – conforme seus próprios idealizadores – é a falta de uma interface de comunicação com o público, que não tem acesso aos mapas gerados. Embora prevista, essa interface ainda não foi desenvolvida por problemas de orçamento.