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sábado, 24 de novembro de 2012

Combate a incêndio industrial – Comando e controle

O combate a um incêndio em ambiente industrial é uma tarefa complexa, principalmente se o fogo não for debelado na sua fase inicial ou incipiente. Um dos fatores que influenciam muito o sucesso ou fracasso nesse tipo de operação está relacionado à liderança, mais especificamente na avaliação do cenário e definição de objetivos, estratégia e táticas para o combate. Apesar disso, nem sempre esses aspectos recebem o merecido destaque nos treinamentos de Brigadistas de Incêndio ou de Bombeiros Profissionais Civis. Vamos examinar o assunto, trazendo principalmente conceitos que fazem parte da edição de 2007 da NFPA 1081, Standard for Industrial Fire Brigade Member Professional Qualifications. Vale lembrar que a norma foi revisada e que a versão vigente é a de 2012. Apesar disso, os conceitos continuam válidos.

Incêndio em indústria químca em Waxahachie, Texas, em outubro de 2011. (http://www.csmonitor.com/)


O gerenciamento por objetivos é uma característica do Sistema de Comando de Incidentes (ICS). Esses objetivos estão normamente colocados no Plano de Ação do Incidente (Incidente Action Plan – IAP), que deve cobrir todos os objetivos e atividades de suporte necessárias durante todo o período operacional (normalmente de até 12 horas). Em incidentes simples, o IAP pode ser verbal, mas em casos mais complexos, deverá ser escrito. O plano traz as estratégias e as táticas para o controle do incêndio.

A estratégia pode ser considerada como o objetivo principal do controle do incidente, ou o que o líder espera conseguir realizar de modo global. A estratégia adotada irá direcionar as táticas que serão usadas no incidente.

As táticas são as tarefas específicas necessárias para alcançar o objetivo estratégico. Quando abordamos o combate a incêndio industrial, os sete objetivos táticos são:
- Salvamento (ou resgate)
- Isolamento das exposições
- Confinamento
- Extinção
- Rescaldo
- Recuperação/proteção de propriedade (salvage, em inglês)
- Ventilação

Esses sete objetivos estão de acordo com as prioridades táticas comuns a todos os incidentes aos quais o Sistema de Comando de Incidentes (não somente em incêndios), que são:
- Segurança (life safety): a primeira prioridade do Comandante do Incidente (IC) é sempre a preservação da vida, dos socorristas e do público.
- Estabilização do incidente: o IC deve organizar os esforços de maneira que o incidente não se propague.
- Conservação da propriedade (e do meio ambiente).

Em postagens futuras abordaremos mais sobre os sete objetivos táticos e sobre o processo de avaliação do incidente.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Mais sobre a crise da segurança pública em São Paulo

A crise na segurança pública no Estado de São Paulo continua. O número de vítimas de homicídios cresceu 114,6% na comparação entre os meses de outubro deste e do ano passado na capital paulista. As medidas para tratar do mais importante, que é o controle da situação em si, parecem não estar surtindo o efeito desejado.

Além disso, o gerenciamento da crise apresenta problemas. Hoje, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Antonio Ferreira Pinto, pediu exoneração do cargo. O governador Geraldo Alckmin aceitou a demissão e elogiou o agora ex-secretário.

Ontem, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse que a onda de violência na Grande São Paulo mata mais gente que o conflito na Palestina.

A regra de divulgar os fatos ruins o quanto antes, e com isso assumir o controle - ainda que parcial - do fluxo de informações, ainda não foi seguida. Com isso, abre-se margem para as mais diversas declarações.

Vamos continuar acompanhando o caso.

domingo, 4 de novembro de 2012

A crise da segurança pública em São Paulo

Apenas nos três primeiros dias de novembro, trinta pessoas morreram na Região Metropolitana de São Paulo em ataques violentos ou em confronto com a polícia. Os números de homicídios no mês de setembro em São Paulo registraram um aumento de 96% em relação ao mesmo mês do ano passado. Foram 135 casos que resultaram em 144 mortes, uma média de quase 5 por dia.

Operação policial na favela de Paraisópolis. (http://www.estadao.com.br/)

A situação é muito recente e sequer foi resolvida ainda, de forma que é muito cedo para conclusões definitivas, mas alguns fatos já podem ser comentados. Procurarei não me deter nas questões específicas de Segurança Pública, que não são o foco central deste blog, mas examinar a situação do ponto de vista do Gerenciamento de Emergências, especialmente da comunicação em crises.

Parece que a regra básica de que a organização em crise deve divulgar os fatos ruins o quanto antes não foi seguida. Em que pese que a organização em questão é o Governo do Estado de São Paulo e que acabamos de passar por um período eleitoral, a insistência em minimizar os fatos e negar a crise parece-me uma enorme falha de comunicação.

Na postagem de 27 de janeiro, já citamos uma definição para crise, que pode ser um acontecimento extraordinário, ou uma série de acontecimentos, que afeta de forma diversa à integridade do produto, a reputação ou a estabilidade financeira da organização; ou a saúde e bem-estar dos empregados, da comunidade ou do público em geral, conforme o Professor Dennis Wilcox, da San Jose State University. Pelos fatos do início da postagem, parece claro que o Estado enfrenta uma crise.

No final do mês passado, o secretário de Estado da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, negou que o crime organizado tenha mandado comerciantes fecharem as portas, atribuiu o pânico que se espalha na cidade a boatos e colocou a culpa nos meios de comunicação. Para ele, toque de recolher "é coisa de outros Estados". "É a imprensa que fica criando pânico na população, sem apurar nem confirmar os fatos", disse o capitão Rodrigo Cabral, da assessoria de comunicação da PM. Embora realmente não deva ter havido um toque de recolher formalmente decretado , a negação e - pior - a transferência da culpa para os meios de comunicação não me parece a melhor estratégia de comunicação e nem o melhor meio de tranquilizar a população.

Operação policial na favela de Paraisópolis. (http://oglobo.globo.com/)

Outra questão que aparece nesse contexto é a aparente contradição entre os membros do governo, tanto paulista como federal. O Secretário da Segurança afirmou que "estamos com a estratégia absolutamente correta" (26/10) e que "aqui a polícia entra em qualquer lugar, aqui não precisa ter unidade pacificadora, não tem nada para pacificar em São Paulo" (31/10). O Comandante da PM afirmou que considera "desnecessário o Exército" (02/11). Já o Governador Geraldo Alckmin afirmou que "toda ajuda é muito bem-vinda" (31/10). Por sua vez, a ministra-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Helena Chagas, afirmou que o Governo de São Paulo aceitou a oferta de ajuda federal para combater a violência no Estado, em telefonema feito pela presidente Dilma Rousseff (31/10).

Provavelmente essa crise se tornará um "case" para estudos futuros. Espero que os governos estadual e federal acertem não somente o discurso, mas - principalmente - as ações para por fim à situação o mais rapidamente possível.