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terça-feira, 26 de junho de 2012

Impacto global dos desastres

Durante a Rio+20, no dia 13 de junho, a Representante Especial do Secretário Geral da ONU para Redução do Risco de Desastres, Margareta Wahlström, expressou a necessidade dos estados membros da ONU de encarar as realidades dos impactos humanos e economicos de desastres, desde a conferência de 1992.

Ao longo dos últimos vinte anos, estima-se conservadoramente que os desastres já mataram 1,3 milhões de pessoas, afetaram 4,4 bilhões e resultaram em perdas econômicas de US $ 2 trilhões. Esses são números surpreendentes, analisando o que isso significa em termos de oportunidades perdidas, vidas destroçadas, habitações, escolas e unidades de saúde destruídas, perdas culturais e de transporte.




Os países mais afetados nas categorias de pessoas afetadas, perdas materiais e perdas humanas são a China (2,5 bilhões de pessoas afetadas), os Estados Unidos (US$ 560 bilhões de prejuízo) e o Haiti (230.675 mortos). Isso não significa de forma alguma que o Brasil esteja vacinado e imune a desastres.

Pelo contrário, essas informações mostram a vulnerabilidade de qualquer país do nosso planeta a desastres. Reconhecer o risco de desastres e se preparar e o único caminho.

Para ver o comunicado e o infográfico da ONU, clique aqui: http://www.unisdr.org/files/27162_2012no21.pdf.

Algumas observações:

Devido à falta de tempo para me dedicar ao blog, as postagens não serão mais semanais. Pelo menos durante os próximos meses, tentarei atualizar o blog mais ou menos a cada quinze dias.

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sábado, 16 de junho de 2012

O desafio de envolver o público na preparação para emergências

Mais de uma vez, escrevi desmentindo o mito da Síndrome do Desastre: a ideia de que o público em geral é impotente diante de um desastre e totalmente dependente da ajuda especializada, normalmente do governo. Os fatos mostram que quando o desastre ocorre, as populações mostram uma capacidade de resposta e resiliência acima do esperado. Uma das maneiras de melhorar essa capacidade é através de treinamentos e simulados. Mas não é assim tão simples.
Há cerca de dois anos, estava no Poupatempo da Praça da Sé, em São Paulo, quando foi realizado um simulado de evasão. Para quem não conhece, o Poupatempo é um local que centraliza vários serviços públicos e, como o nome diz, tem como principal característica a rapidez nos seus serviços. O simulado foi relativamente bem organizado, com faixas e cartazes informando do simulado (mas não seu horário) e, alguns minutos antes dos alarmes soarem, distribuição de senhas para que as pessoas mantivessem seus lugares nas filas quando do retorno ao prédio.
Quando o simulado começou, qual foi a reação do público? De alívio, pois o governo estava cumprindo sua obrigação de preparar-se para emergências? Não... “Palhaçada”,  “falta do que fazer” e “perda de tempo” foram alguns dos comentários que ouvi (a bem da verdade, o simulado atrasou cerca de meia hora o atendimento).
No dia 31 de maio, o Peru realizou um simulado nacional de terremoto e tsunami. O Peru está localizado na região de interface entre duas grandes placas tectônicas, a Placa Sul-americana e a Placa de Nazca e tem um histórico de vários terremotos.


O que se viu no simulado foram duas situações. Por parte da Defesa Civil e algumas outras autoridades e entidades civis, como hotéis e escolas, houve o comprometimento e participação. Por parte da população em geral, a participação variou entre nenhuma e a mesma revolta vista no simulado do Poupatempo.

No simulado brasileiro, apesar da organização, ninguém explicou à população o que estava ocorrendo e nem a importância do simulado (como "atenuante", talvez isso não tenha sido feito para não atrasar ainda mais o atendimento). Além disso, o pessoal uniformizado que participou do simulado, agentes de segurança contratados e Guardas Civis Municipais, mantiveram a distância e um inconsciente ar de superioridade em relação aos "civis" que participaram do simulado.

No caso peruano, por exemplo, a entrada do aeroporto de Lima foi interditada por cerca de 15 minutos, mas ninguém apareceu para avisar o que estava acontecendo ou para avaliar as consequências da interdição no trânsito: um congestionamento enorme se formou em uma área que poderia ser varrida pelo tsunami, em uma situação real.

Não existe uma receita pronta para que os simulados envolvam e conquistem a participação do público. Mas, seja qual for o caminho tomado, o processo para viabilizar essa participação indispensável deve passar pela comunicação clara com todos os envolvidos.

sábado, 9 de junho de 2012

Conferência Latinoamericana de Segurança de Processos, resiliência...

Uma postagem um pouco diferente, apenas para atualizar algumas informações.

Conferência Latinoamericana de Segurança de Processos

Estarei apresentando um poster digital sobre "Comportamento Humano e Planejamento de Emergências" na 4th Edition of CCPS Latin American Process Safety Conference, que será realizada no Rio de Janeiro, entre os dias 03 e 05 de julho de 2012, no Hotel Sofitel. Minha apresentação será no dia 5, às 16h00.

O trabalho apresenta conceitos relacionados ao comportamento humano durante situações de crise, tais como emergências e desastres, relatando casos de emergências reais onde puderam ser identificados aspectos psicológicos dos envolvidos que contribuíram para o resultado final do evento. Com base nesses conceitos, é possível traçar linhas de ação para auxiliar os gestores de emergência em ambientes corporativos na fase de planejamento, tais como a revisão da atuação de coordenadores de abandono, aplicação da evasão por fases em edifícios altos e medidas para evitar o pânico, entre outras.

Se tiverem oportunidade de participar, será um evento muito interessante.

Resiliência

A rádio CBN apresentou no programa "Caminhos Alternativos" do dia 26/05, uma entrevista com japoneses que perderam muito no terremoto e tsunami e, mesmo assim, não desistiram. Vale a pena conferir.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Rick Rescorla

Na postagem de 13 de janeiro de 2012, sobre o uso da psicologia no planejamento de emergências, citei o caso de Rick Rescorla,  Diretor de Segurança da empresa Morgan Stanley no World Trade Center em 11 de setembro de 2001. Na ocasião, ele demonstrou grande conhecimento e sensibilidade sobre o comportamento humano em emergências, ao comandar pessoalmente o abandono por fases nos escritórios da empresa, permitindo que os 2.700 funcionários presentes naquele dia pudessem abandonar o prédio, com apenas treze mortes, entre elas, a dele próprio e de quatro agentes de segurança que auxiliavam na evacuação.

Evacuação do World Trade Center em 2001. (http://americanhistory.si.edu/september11/)

Ele foi homenageado postumamente no décimo aniversário dos atentados, com a medalha DHS Distinguished Public Service. Além disso, o DHS deu seu nome a um concurso visando reconhecer a liderança superior e inovação por um indivíduo ou organização não-governamental ou uma organização, enfatizando a liderança na preparação eficaz, resposta e recuperação em face de desastres - o Rick Rescorla National Award for Resilience.

Conforme nota Amanda Ripley em seu blog, em vez do governo falar como vai fazer a população segura, é hora de ouvir - "os vendedores de camisetas, as aeromoças, os sobreviventes e o cara no assento do corredor, ao Rick Rescorlas do mundo, que têm nos mostrado como o público pode prevenir e responder a desastres com coragem, graça e iniciativa". Exatamente o oposto ao mito da "Síndrome do Desastre".

Cyril Richard "Rick" Rescorla nasceu em 27 de maio de 1939 em Hayle, no Reino Unido. Foi oficial do Exército Britânico, serviu com distinção na Rodésia do Norte como membro da polícia (NRP) e lutou na Guerra do Vietnã, como segundo tenente do Exército dos Estados Unidos, onde participou da batalha de la Drang, retratada no filme "Fomos Heróis", com Mel Gibson (no filme, infelizmente, sua participação na batalha foi ignorada). Já na reserva, na década de 1980, começou a trabalhar na  Dean Witter Reynolds, que posteriormente teve uma fusão com a Morgan Stanley.

Rick Rescorla na batalha de la Drang. (http://www.calegionpost149.org/)


Em 1992,  Rescorla alertou a Autoridade Portuária (proprietária do World Trade Center) sobre a possibilidade de um ataque de caminhão-bomba aos pilares da garagem de estacionamento no subsolo, mas foi ignorado. Quando os terroristas utilizaram esse método no ataque de 1993, ele participou ativamente na evacuação do edifício.

Rescorla, com seu velho amigo Dan Hill, argumentou que o World Trade Center ainda poderia ser alvo para os terroristas e que o próximo ataque poderia ser fazendo um avião colidir com uma das torres. Ele recomendou a seus superiores da Morgan Stanley que a empresa deixasse Manhattan. No entanto, essa recomendação não foi seguida, pois o contrato de locação da empresa no World Trade Center não terminaria até 2006. Essa história é contada no documentário "O Homem que Previu o 11 de Setembro", do History Channel.

Após a evacuação deficiente em 1993, ele decidiu que os empregados da Morgan Stanley deveriam ser responsáveis pela própria sobrevivência e não contar com recursos externos que talvez nunca chegassem a tempo. Seguiram-se simulados de evasão frequentes, que não poupavam altos executivos e nem visitantes, e que nem sempre eram bem vistos. Mesmo assim, os simulados prosseguiram.

Quando o ataque ocorreu, seus colegas de empresa utilizaram as lições e salvaram-se a si próprios. Ele e seus auxiliares voltaram ao prédio em chamas para auxiliar a evasão de mais pessoas, quando a torre desabou. Seu corpo nunca foi encontrado.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Resposta aos atentados ao World Trade Center em 2001 e o Sistema de Comando de Incidentes


É possível identificar a influência dos vários elementos do SCI na resposta aos atentados terroristas em Nova Iorque em 2001, ressalvando que é sempre difícil criticar um trabalho em que pereceram 343 Bombeiros, pessoas que deram suas vidas heroicamente em favor do próximo. Porém, uma maneira de honrar aqueles que pereceram é aprender com os erros do passado para evitar sua repetição.


Cerimônia no décimo aniversário dos atentados. (© FDNY Photo Unit)




Hoje, é claro o fato que a ausência de um sistema de comando unificado na ocasião foi um dos fatores responsáveis pelo número sem precedentes de socorristas mortos em serviço.


A análise a seguir será feita com base em algumas das principais características do SCI: unidade de comando, alcance de controle, comunicações integradas e terminologia comum.


Unidade de comando


Embora oficialmente o comando das operações fosse do Corpo de Bombeiros de Nova Iorque (FDNY), não houve comando unificado na resposta ao atentado. Durante o evento houve o estabelecimento de dois postos de comando paralelos, sendo o do FDNY no lobby das torres e o do Departamento de Polícia (NYPD) a três quarteirões, na esquina da Church com a Vesey Street. Nenhum supervisor da NYPD reportou ao posto de comando dos Bombeiros.


Posteriormente, membros tanto dos Bombeiros como da Polícia reclamaram sobre as dificuldades para estabelecer um comando conjunto. Os Policiais reclamaram da ausência de disciplina militar por parte dos Bombeiros e esses, por sua vez, reclamaram de uma dificuldade histórica de relacionamento com o NYPD.


Alcance de controle


Outro pilar do SCI, o alcance de controle gerenciável, não se mostrou presente na resposta. Sessenta bombeiros de folga morreram no colapso dos edifícios. Equipes de bombeiros compareceram ao local – sem terem sido despachadas para lá – e muitas equipes não se reportaram aos postos de comando, se autodespachando para as torres, sem nenhuma missão definida.


Algumas guarnições foram vistas carregando pesadas mangueiras de incêndio pelas escadas visando o combate a um incêndio que o comando já havia considerado como batalha perdida. Com certeza, a lentidão e o cansaço dessa operação contribuiu para a perda de vidas de Bombeiros, além de que esses profissionais teriam sido mais úteis em outras funções, como auxílio na evacuação.


Os comandantes do NYPD e principalmente do FDNY não tinham a contagem e localização exata das equipes que atuavam no local. Até hoje não foi possível estabelecer com certeza o local das mortes de todas as baixas do FDNY.


Comunicações integradas e terminologia comum


Talvez o fator que mais tenha contribuído para o trágico resultado das operações para o NYFD tenha sido o colapso de seu sistema de comunicação por rádio. Os comandantes não conseguiam se comunicar com as equipes que estavam dentro dos prédios, de modo análogo ao que aconteceu durante a resposta ao atentado de 1993. Embora os antigos HTs (“handie-talkie”) analógicos do Departamento tenham sido substituídos por modelos digitais no início de 2001, houve um retorno aos HTs analógicos logo depois, por causa de problemas com o sistema digital. Dessa forma, os Bombeiros portavam modelos ultrapassados no dia 11 de setembro.


A integração das comunicações entre os Bombeiros e a Polícia também não existiu. Talvez o exemplo mais dramático da falta de comunicação entre os departamentos tenha sido dado quando os helicópteros do NYPD que sobrevoavam o local avisaram sobre o colapso iminente da torre norte, 21 minutos antes dela ruir. O aviso foi dado na freqüência exclusiva da Polícia que iniciou a retirada dos seus homens das torres. O mesmo aviso não foi ouvido pelos Bombeiros, muitos dos quais ficaram na torre norte até seu colapso, perecendo.


Helicóptero da NYPD observa o colapso das torres gêmeas. (http://www.examiner.com/)


Algumas medidas que poderiam ter sido tomadas para evitar esse desfecho:
- Adoção do SCI, incluindo planejamento prévio e treinamentos periódicos em conjunto com os departamentos envolvidos.
- Revisão do planejamento após os treinamentos.
- Planejamento para eventos com grande número de vítimas e socorristas. Muitas vezes, devido à magnitude do evento, o mesmo poderia ter treinamento apenas do tipo “table top”.
- Procedimentos e treinamentos para evitar o “autodespacho” para a zona quente, sem ordem expressa do comando.
- Substituição do sistema analógico de comunicação por sistema digital que funcionasse corretamente.
- Definição de uma freqüência comum para comunicações entre os departamentos.
- Elaboração de plano de comunicação alternativo em caso de colapso do sistema principal.