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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A tragédia de Newtown

Na sexta-feira, dia 14, um atirador matou 26 pessoas, sendo 20 crianças, na Escola Sandy Hook na cidade de Newtown, Connecticut, Estados Unidos. O crime absurdo chocou e entristeceu o mundo todo. As investigações estão em andamento e ainda é cedo para conclusões definitivas. Os debates sobre o que fazer para evitar que acontecimentos terríveis como esses se repitam tomam conta da mídia, principalmente nos EUA. Aqui, vamos analisar alguns fatos do ponto de vista de Gerenciamento de Emergências.

Bandeira americana a meio mastro na cidade de Newtown. (nation.time.com)

A participação dos Corpos de Bombeiros Voluntários das cidades de Easton e Monroe, além das cinco companhias voluntárias de Newtown - Botsford, Dodgingtown, Hawleyville, Newtown Hook & Ladder e Sandy Hook, esta a pouca distância do local - merece destaque na resposta ao tiroteio, bem como dos policiais do local.

Os noticiários citaram casos de professores que trancaram seus alunos nas salas ou mesmo em ármarios e banheiros, a fim de protegê-los durante o tiroteio. Mais do que uma iniciativa improvisada, essa ação é resultante de planejamento e treinamento. O procedimento de se trancar - conhecido como "lockdown" - foi simulado algumas vezes na escola, de forma que quando se fez necessário, os professores fizeram o que foi preciso, sem hesitação e sem ter que perguntar para outros se era para fazer isso mesmo.

Na postagem do dia 9 de março abordamos o comportamento de crianças em emergências, vendo que do ponto de vista da sobrevivência, as crianças devem ser consideradas como funcionalmente diferentes dos adultos, devido ao seu estágio de desenvolvimento neurológico e cognitivo. Ainda nessa postagem, citamos o Professor de Psicologia John Leach, que afirma que essa situação pode ser minimizada com a instrução sobre emergências nas escolas.

E no Brasil? Será que nossas escolas estão preparadas para uma emergência? Não me refiro somente às ocorrências de "atirador ativo" (pouco prováveis por aqui, embora não impossíveis, conforme provou o caso de Realengo em 2011), mas também a outros tipos de emergência mais prováveis, como vendavais, inundações e incêndios.

Eric Holdeman escreveu no blog Disaster Zone algumas coisas que os pais e responsáveis poderiam e deveriam perguntar nas escolas de seus filhos. Tomo a liberdade de reproduzir a lista aqui, fazendo algumas inclusões e modificações para o que considero ser a realidade brasileira:
- A escola possui sistema de alarme e combate a incêndio? Possui Brigada de Incêndio treinada? Tem a licença do Corpo de Bombeiros?
- Tem um plano de emergência? Se tiver – o que vai ser difícil – quando foi revisado? Se o plano tiver mais de cinco anos, deve estar desatualizado. A polícia e o Corpo de Bombeiros conhece esse plano?
- Já houve alguma simulado de emergência na escola?

Equipamento de combate a incêndio sem condições de uso em escola pública brasileira. Preparada para emergências?

A lista do blog é mais extensa, mas considero que para a nossa realidade, os pontos acima já são um bom começo. Provavelmente a escola terá deficiências. Caberá a nós não somente cobrar das autoridades que façam a sua parte, mas tomarmos a iniciativa de sermos parceiros da escola, ajudando onde for necessário para que nossas crianças estejam mais seguras.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Combate a incêndio industrial – Objetivos táticos

Na postagem de 24 de novembro, comecei a abordar a questão de comando e controle no combate de incêndios industriais. Falamos que os sete objetivos táticos são:
- Salvamento (ou resgate)
- Isolamento das exposições
- Confinamento
- Extinção
- Rescaldo
- Recuperação/proteção de propriedade (salvage, em inglês)
- Ventilação


Os cinco primeiros objetivos formam o acrônimo SICER, tão conhecido dos bombeiros. Em inglês, é conhecido como RECEO (Rescue, Exposures, Confinement, Extinguishment, Overhaul). Os objetivos estão apresentados de forma ordenada, embora flexível, como veremos adiante.

O salvamento, seja de uma vítima, seja de um socorrista, sempre será a primeira ação, de forma coerente com a primeira prioridade tática que é a segurança (life safety). 
Após o salvamento, ou ainda se não houver necessidade dele, é hora de pensar no isolamento de exposições. O instrutor Tom Kiurski usa uma boa definição para exposições: qualquer coisa que não está queimando quando você chega, mas corre o risco de pegar fogo, por exemplo, prédios vizinhos e carros parados em um estacionamento. Podemos ainda ampliar um pouco a definição e incluir coisas que não necessariamente irão “pegar fogo”, mas que serão danificadas pelo calor irradiado. Assim, em um incêndio industrial, não é incomum o resfriamento de tanques que recebam radiação térmica do incêndio, mesmo que não contenham produtos inflamáveis.

Bombeiros tentam resfriar tanque em incêndio industrial em Java, Indonésia, em abril de 2011. (http://www.thejakartapost.com/)

O confinamento refere-se, basicamente, a não deixar o fogo crescer, mantendo-o no local de origem – ou pelo menos no local em que estava no início do combate, seja um compartimento de armazenagem, um tanque ou mesmo uma planta industrial. Ao atingir-se esse objetivo tático, o incidente está estabilizado. O incêndio começa a ser controlado.

Agora, passa-se à prioridade tática de conservação da propriedade. O  próximo passo é a extinção do fogo. Aqui, as técnicas que serão utilizadas dependerão do tipo de incêndio e recursos disponíveis.

O rescaldo é a busca e extinção de focos de incêndio que ainda possam estar ocultos e evitar a reignição.

A ventilação e a proteção da propriedade, embora não façam parte do SICER, são os dois últimos dos objetivos táticos, embora não necessariamente tenham que ocorrer nessa ordem. A ventilação é usada para retirar a fumaça e outros gases resultantes do incêndio do ambiente, podendo ser feita por meios mecânicos, com o uso de ventiladores/exaustores, ou através de ventilação hidráulica, com o uso de jatos de água. A proteção da propriedade refere-se, por exemplo, a cobrir equipamentos sensíveis à água com lonas, antes de fazer a extinção de um foco de incêndio elevado, a fim de minimizar-se os prejuízos.

No início da postagem, falamos que deve haver alguma flexibilidade. Por exemplo, enquanto uma equipe dedica-se ao resgate, outra pode estar cuidando do isolamento, simultaneamente. Ou ainda, caso uma nova vítima seja descoberta, volta-se imediatamente ao resgate.

Embora seja um conceito com mais de 30 anos, o SICER ainda serve para que o IC tenha em mente os principais objetivos táticos, em uma ordem coerente, mas que deve ser usado sempre sabendo-se de suas limitações.

sábado, 24 de novembro de 2012

Combate a incêndio industrial – Comando e controle

O combate a um incêndio em ambiente industrial é uma tarefa complexa, principalmente se o fogo não for debelado na sua fase inicial ou incipiente. Um dos fatores que influenciam muito o sucesso ou fracasso nesse tipo de operação está relacionado à liderança, mais especificamente na avaliação do cenário e definição de objetivos, estratégia e táticas para o combate. Apesar disso, nem sempre esses aspectos recebem o merecido destaque nos treinamentos de Brigadistas de Incêndio ou de Bombeiros Profissionais Civis. Vamos examinar o assunto, trazendo principalmente conceitos que fazem parte da edição de 2007 da NFPA 1081, Standard for Industrial Fire Brigade Member Professional Qualifications. Vale lembrar que a norma foi revisada e que a versão vigente é a de 2012. Apesar disso, os conceitos continuam válidos.

Incêndio em indústria químca em Waxahachie, Texas, em outubro de 2011. (http://www.csmonitor.com/)


O gerenciamento por objetivos é uma característica do Sistema de Comando de Incidentes (ICS). Esses objetivos estão normamente colocados no Plano de Ação do Incidente (Incidente Action Plan – IAP), que deve cobrir todos os objetivos e atividades de suporte necessárias durante todo o período operacional (normalmente de até 12 horas). Em incidentes simples, o IAP pode ser verbal, mas em casos mais complexos, deverá ser escrito. O plano traz as estratégias e as táticas para o controle do incêndio.

A estratégia pode ser considerada como o objetivo principal do controle do incidente, ou o que o líder espera conseguir realizar de modo global. A estratégia adotada irá direcionar as táticas que serão usadas no incidente.

As táticas são as tarefas específicas necessárias para alcançar o objetivo estratégico. Quando abordamos o combate a incêndio industrial, os sete objetivos táticos são:
- Salvamento (ou resgate)
- Isolamento das exposições
- Confinamento
- Extinção
- Rescaldo
- Recuperação/proteção de propriedade (salvage, em inglês)
- Ventilação

Esses sete objetivos estão de acordo com as prioridades táticas comuns a todos os incidentes aos quais o Sistema de Comando de Incidentes (não somente em incêndios), que são:
- Segurança (life safety): a primeira prioridade do Comandante do Incidente (IC) é sempre a preservação da vida, dos socorristas e do público.
- Estabilização do incidente: o IC deve organizar os esforços de maneira que o incidente não se propague.
- Conservação da propriedade (e do meio ambiente).

Em postagens futuras abordaremos mais sobre os sete objetivos táticos e sobre o processo de avaliação do incidente.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Mais sobre a crise da segurança pública em São Paulo

A crise na segurança pública no Estado de São Paulo continua. O número de vítimas de homicídios cresceu 114,6% na comparação entre os meses de outubro deste e do ano passado na capital paulista. As medidas para tratar do mais importante, que é o controle da situação em si, parecem não estar surtindo o efeito desejado.

Além disso, o gerenciamento da crise apresenta problemas. Hoje, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Antonio Ferreira Pinto, pediu exoneração do cargo. O governador Geraldo Alckmin aceitou a demissão e elogiou o agora ex-secretário.

Ontem, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse que a onda de violência na Grande São Paulo mata mais gente que o conflito na Palestina.

A regra de divulgar os fatos ruins o quanto antes, e com isso assumir o controle - ainda que parcial - do fluxo de informações, ainda não foi seguida. Com isso, abre-se margem para as mais diversas declarações.

Vamos continuar acompanhando o caso.

domingo, 4 de novembro de 2012

A crise da segurança pública em São Paulo

Apenas nos três primeiros dias de novembro, trinta pessoas morreram na Região Metropolitana de São Paulo em ataques violentos ou em confronto com a polícia. Os números de homicídios no mês de setembro em São Paulo registraram um aumento de 96% em relação ao mesmo mês do ano passado. Foram 135 casos que resultaram em 144 mortes, uma média de quase 5 por dia.

Operação policial na favela de Paraisópolis. (http://www.estadao.com.br/)

A situação é muito recente e sequer foi resolvida ainda, de forma que é muito cedo para conclusões definitivas, mas alguns fatos já podem ser comentados. Procurarei não me deter nas questões específicas de Segurança Pública, que não são o foco central deste blog, mas examinar a situação do ponto de vista do Gerenciamento de Emergências, especialmente da comunicação em crises.

Parece que a regra básica de que a organização em crise deve divulgar os fatos ruins o quanto antes não foi seguida. Em que pese que a organização em questão é o Governo do Estado de São Paulo e que acabamos de passar por um período eleitoral, a insistência em minimizar os fatos e negar a crise parece-me uma enorme falha de comunicação.

Na postagem de 27 de janeiro, já citamos uma definição para crise, que pode ser um acontecimento extraordinário, ou uma série de acontecimentos, que afeta de forma diversa à integridade do produto, a reputação ou a estabilidade financeira da organização; ou a saúde e bem-estar dos empregados, da comunidade ou do público em geral, conforme o Professor Dennis Wilcox, da San Jose State University. Pelos fatos do início da postagem, parece claro que o Estado enfrenta uma crise.

No final do mês passado, o secretário de Estado da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, negou que o crime organizado tenha mandado comerciantes fecharem as portas, atribuiu o pânico que se espalha na cidade a boatos e colocou a culpa nos meios de comunicação. Para ele, toque de recolher "é coisa de outros Estados". "É a imprensa que fica criando pânico na população, sem apurar nem confirmar os fatos", disse o capitão Rodrigo Cabral, da assessoria de comunicação da PM. Embora realmente não deva ter havido um toque de recolher formalmente decretado , a negação e - pior - a transferência da culpa para os meios de comunicação não me parece a melhor estratégia de comunicação e nem o melhor meio de tranquilizar a população.

Operação policial na favela de Paraisópolis. (http://oglobo.globo.com/)

Outra questão que aparece nesse contexto é a aparente contradição entre os membros do governo, tanto paulista como federal. O Secretário da Segurança afirmou que "estamos com a estratégia absolutamente correta" (26/10) e que "aqui a polícia entra em qualquer lugar, aqui não precisa ter unidade pacificadora, não tem nada para pacificar em São Paulo" (31/10). O Comandante da PM afirmou que considera "desnecessário o Exército" (02/11). Já o Governador Geraldo Alckmin afirmou que "toda ajuda é muito bem-vinda" (31/10). Por sua vez, a ministra-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Helena Chagas, afirmou que o Governo de São Paulo aceitou a oferta de ajuda federal para combater a violência no Estado, em telefonema feito pela presidente Dilma Rousseff (31/10).

Provavelmente essa crise se tornará um "case" para estudos futuros. Espero que os governos estadual e federal acertem não somente o discurso, mas - principalmente - as ações para por fim à situação o mais rapidamente possível.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Lições das ocupações no Rio de Janeiro

Na postagem anterior, abordei a questão dos perigos do "auto despacho", por mais bem intencionado que seja, e também, por outro lado, da importância da identificação de recursos de ajuda mútua na fase de planejamento para a emergência. Esse é o momento de identificar forças e fraquezas, oferecer e pedir ajuda, forjar alianças e celebrar acordos de cooperação entre os vários participantes do gerenciamento da emergência. Os acontecimentos recentes no Rio de Janeiro trazem um exemplo de planejamento bem feito.

A imprensa nacional e estrangeira repercutiu a ocupação das favelas de Manguinhos e de Jacarezinho, no Rio de Janeiro, pelas Polícias Militar e Civil, com apoio dos Fuzileiros Navais e da Polícia Rodoviária Federal, feira no domingo, 14 de outubro. Não houve confrontos e as forças policiais não encontraram resistência na ação que durou apenas 20 minutos. A operação sofreu algumas críticas pela falta de prisões (a esse respeito, o secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, disse que "mais importante (que fazer de um bandido um troféu) é devolver o território para 70 mil pessoas sem derramar uma gota de sangue"). Apesar disso, a ocupação foi indiscutivelmente um sucesso do ponto de vista da coordenação dos diferentes recursos envolvidos.
 

Blindados da Marinha na ocupação de Manguinhos. (http://www.estadao.com.br/)
  

Relembrando, em novembro de 2010, em resposta a uma série de ataques perpetrados por marginais, o governo fluminense iniciou a ocupação da Vila Cruzeiro. Os policiais enfrentaram forte resistência e, em pouco tempo, passaram a utilizar seis blindados M113 da Marinha para transporte de tropas. A rápida mobilização dos blindados indica que a fase de planejamento foi feita corretamente. Além disso, a operação coordenou cerca de dois mil homens, entre policiais militares, civis, federais, militares da Marinha e Polícia Rodoviária Federal. Ainda em novembro, foi a vez do Complexo do Alemão ser ocupado, em uma operação conjunta de forças policiais, do Exército e Marinha.

Além de planejamento e coordenação de diferentes recursos sob um comando unificado, a recente ocupação traz como bom exemplo também o uso da tecnologia. Pela primeira vez em uma operação policial, o BOPE usou um equipamento LiveU de filmagem durante uma incursão, com transmissão das imagens em tempo real para o Posto de Comando da operação.

Embora ainda nosso país tenha um longo caminho a percorrer no Gerenciamento de Emergências, devemos  ficar atentos também para os nossos bons exemplos.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

"Só queria ajudar": os perigos do autodespacho


Cidade de Lebanon, Estado da Pensilvânia, Estados Unidos. Em uma noite de setembro deste ano, um incêndio irrompe em uma residência na 14th Street. Às 22h36, as primeiras unidades dos bombeiros da cidade chegam ao local. O fogo ameaça se espalhar para as casas vizinhas e, às 10h47, o Comandante do Incidente (IC) solicita um segundo alarme, conforme os procedimentos pré determinados. A viatura de bombeiros Tower 1, da cidade de Palmyra, a cerca de 15 Km do local, oferece seus serviços e começa a se dirigir ao local, em modo não emergencial.

O incêndio na cidade de Lebanon. (http://www.ldnews.com/)

O Comissário Duane Trautman, de Lebanon, que havia então assumido o posto de IC, dirige-se ao operador de rádio: “Tower 1, pode cancelar. Eles não têm nada que convidar-se para a Cidade de Lebanon. Podem voltar sem os nossos agradecimentos. Eu gostaria de um resumo de quem está respondendo ao segundo alarme – corretamente”.

A resposta ríspida (ouça o áudio original em inglês clicando aqui) desencadeou uma série de críticas. "Como fica a fraternidade dos bombeiros?", perguntavam alguns. Porém meus amigos, os Chefes Brian Kazmierzak e Billy Goldfeder, analisaram o acontecimento sob outro prisma, no website Firefighter Close Calls. O Comissário Trautman estava no comando do incidente. De acordo com a filosofia do Sistema de Comando de Incidentes (SCI), cabia a ele e somente a ele decidir quais recursos seriam necessários e quando. Ele foi ríspido demais? Creio que sim. Mas ele estava ocupado tentando cuidar de um incêndio e teve que lidar com mais uma distração. Ele próprio explicou o ocorrido no site de Dave Statter.

Os perigos do "autodespacho"

Autodespacho" (ou self-deployment, em inglês) significa que uma ou mais unidades de socorro se dirigiram ao local do incidente por "livre e espontânea vontade", sem terem sido requisitadas. Isso acaba sendo observado, na maioria das vezes, quando a resposta envolve mais de uma agência ou organização, como no acionamento dos planos de auxílio mútuo.

Nos Estados Unidos, os corpos de bombeiros são na sua maioria municipais e, dependendo da magnitude da ocorrência ou da existência de ocorrências simultâneas, a capacidade de resposta de um município pode ser excedida. Nesse caso, os bombeiros apelam para acordos de auxílio mútuo com cidades e/ou condados vizinhos, que auxiliam com seus bombeiros. Aqui no Brasil, a situação não é tão comum, dada a organização estadual dos nossos bombeiros. Embora bombeiros de diversas cidades possam responder, todos pertencem à mesma corporação. Mesmo assim, a capacidade de resposta pode ser excedida e aqui também existem os PAMs – planos de auxílio mútuo, envolvendo bombeiros, indústrias e outras entidades.

Simulado de acidente na Via Anchieta. Acidentes de trânsito de grande magnitude podem envolver a necessidade de auxílio mútuo. (http://www.atribuna.com.br/)


Bombeiros e demais socorristas querem ajudar seus companheiros e a população. Isso faz parte do que é ser um socorrista. Embora um comportamento altruísta, traz inúmeros riscos aos socorristas e a população. Um exemplo claro dos malefícios dessa prática foi visto na resposta ao atentado contra o World Trade Center. Sessenta bombeiros de folga morreram no colapso dos edifícios. Equipes de bombeiros compareceram ao local – sem terem sido despachadas para lá – e muitas equipes não se reportaram aos postos de comando, se autodespachando para as torres, sem nenhuma missão definida.

O autodespacho também tumultua a cena da ocorrência, pois o comandante tem que se preocupar com recursos não solicitados, desviando o foco do atendimento da ocorrência. Por outro lado, as unidades que se autodespacham para a ocorrência, deixam muitas vezes seus locais de origem sem cobertura de emergência. Suas indústrias ou organizações continuam com o risco de emergências, porém sem poder contar com seus socorristas.

Mas, o que fazer?

Qualquer organização pode ter sua capacidade de resposta excedida e ter que recorrer a ajuda externa. Por outro lado, as organizações podem e devem oferecer essa ajuda, porém na fase de planejamento e não durante a resposta. É nessa fase que os recursos disponíveis devem ser mapeados e acordos feitos. Dessa maneira, durante a resposta, o IC pode se concentrar em combater a emergência, sem se preocupar com o gerenciamento de recursos não solicitados.

sábado, 29 de setembro de 2012

Helicóteros: a solução para o SAMU?

Na postagem do dia 25, abordei algumas questões relativas ao SAMU. Dois dias depois, um candidato a Prefeitura de São Paulo declarou que “nós temos que ter helicópteros para o SAMU, nós temos 20 milhões de pessoas na região metropolitana, poderíamos até começar compartilhando com os demais 38 municípios o serviço de aeromédico a um valor muito pequeno”. E continuou afirmando que "hoje não há nenhum (helicóptero para resgate aeromédico do SAMU). Então vamos começar o serviço e verificar gradualmente uma maneira de ir atendendo toda a metrópole, vamos começar com um”.

Será que a simples compra de equipamentos, sejam viaturas terrestres, sejam helicópteros, vai resolver os problemas do SAMU? Parece que mais uma vez, as autoridades (ou candidatos) preferem optar pela "solução" mais simples - e cara - ao invés de atacar o problema a fundo.



Uma dica de programação da TV a cabo

Embora o candidato tenha esquecido os serviços prestados pelos helicópteros Águia, a Discovery Brasil irá apresentar a série "Águias da Cidade", sobre o Grupamento Aéreo da Polícia Militar do Estado de São Paulo. A série promete, com mais de 1000 horas de gravação, 18 câmeras e 40 pessoas envolvidas na produção.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Problemas com o SAMU

Em 23 de agosto, uma estudante universitária, de 28 anos, morreu dentro da sala de aula de uma unidade das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), no Itaim Bibi, na Zona Sul da São Paulo. Segundo o marido, o Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (SAMU) levou 40 minutos para chegar e ela não resistiu. A tragédia levanta o caso, entre outras coisas, do atendimento de emergência do SAMU.

Protesto de motoristas do SAMU paulistano em 2009. (http://noticias.r7.com/)


Uma rápida busca no Google traz mais notícias assustadoras:

Em 3 de setembro, o G1 noticiou o problema da demora do atendimento do SAMU em São Paulo, que chega a levar horas, ao invés dos 15 minutos que deveria.

No dia seguinte, uma mulher de 25 anos morreu enquanto dormia ao lado do namorado, em Sousa, no interior da Paraíba. O homem garantiu à polícia que acionou o SAMU por duas vezes, mas que teve o atendimento recusado.

Na mesma época, o blog de Rose Guglielminetti relata o caso de uma viatura do SAMU em São Paulo transportou 11 pacientes para tratamento na capital. Apenas quatro pessoas utilizaram o cinto de segurança. As outras tiveram os assentos improvisados em macas.

Mas, por que essa situação?

Um dos motivos é óbvio. A falta de recursos e a má gestão dos poucos existentes. Conforme o portal Terra, o Tribunal de Conta das União (TCU) revelou que as motos usadas para dar mais agilidade aos atendimentos funciona mal por falta de planejamento do Ministério da Saúde. Hoje, 40% das motos compradas estão paradas. Os próprios trabalhadores do serviço denunciam o sucateamento, como ocorre em Alagoas.

Outro ponto que deve ser visto é o modelo adotado para o serviço no Brasil. O SAMU foi criado em 2003, adotando o modelo francogermânico com protocolos e estrutura semelhantes ao SAMU francês. Os franceses, utilizam um modelo onde o atendimento é realizado inicialmente por uma central de regulação, com um médico regulador, que despacha o socorro mais adequado. Nesse modelo, os médicos urgentistas tripulam as ambulâncias e promovem a estabilização do paciente no local do evento.


O SAMU original. (http://www.ambulance-photos.com/)

Por outro lado, nos Estados Unicos, adota-se o chamado modelo Anglo-Saxão. Lá, a ativação do serviço de emergência é feita com ligação para um número único de
emergência (911). A triagem é então realizada pelo operador da central de emergências, que definirá quais recursos serão despachados ao local (bombeiros, polícia, ambulâncias).  O atendimento por sua vez, é realizado de tal forma a estabilizar o paciente e removê-lo sem demoras até o centro de referência. Nesse atendimento entra o famosos paramédico, que ao contrário do que muitos pensam, não existe no Brasil! Não, nem os tripulantes do SAMU e nem do Resgate são paramédicos...


Paramédicos dos Bombeiros de Nova Iorque. (http://www.nyc.gov/)

Por que os Estados Unidos adotaram esse modelo? Em relação aos países europeus, os EUA são territorialmente maiores e o custo de tripular as ambulâncias com médicos seria alto. Alguma semelhança com o Brasil?

Embora o modelo francogermânico possa ser tecnicamente melhor, sua aplicabilidade na nossa realidade é complicada, como mostram as notícias no início da postagem. Talvez já seja hora de rever nossos conceitos.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

11 de Setembro de 2001: Onze anos

O dia de hoje marca o décimo primeiro aniversário dos atentados terroristas contra o World Trade Center e o Pentágono, nos Estados Unidos. Esses acontecimentos e algumas de suas relações com o Gerenciamento de Emergências já foram abordados em outras postagens do blog.

Hoje, gostaria de render homenagem aos 343 bombeiros que perderam a vida no WTC e aos muitos outros socorristas que sofreram doenças decorrentes da exposição a agentes ambientais nos trabalhos de salvamento e rescaldo.

Recomendo a quem tiver oportunidade de assistir, o documentário "Os Bombeiros do 11 de Setembro" da National Geographic, que está sendo reprisado algumas vezes nesta semana.

"Os Bombeiros do 11 de Setembro". (http://www.natgeo.com.br)


Duas notícias interessantes:

A NIOSH deve anunciar o reconhecimento do nexo causal entre os trabalhos no "marco zero" e cerca de 50 tipos de câncer, o que deve permitir que vários socorristas que adoeceram se beneficiem do James Zadroga 9/11 Health and Compensation Act, a lei que ampara os doentes ocupacionais dos trabalhos de rescaldo do 11/9. Calcula-se que cerca de 400 pessoas já morreram de câncer relacionado aos trabalhos.

Outra notícia é que a US Fire Administration e a International Association of Fire Chiefs irão iniciar um estudo para redução do comportamento de risco no trabalho de bombeiros.  Embora não diretamente relacionado ao 11 de setembro, as conclusões podem ajudar a explicar e reduzir no futuro, alguns comportamentos de combate agressivo a incêndios, que podem ter contribuído para o número de mortes de socorristas nos atentados (mas que - de maneira nenhuma - diminui o valor daqueles que fizeram o sacrifício supremo em favor do próximo).

terça-feira, 28 de agosto de 2012

As cidades tornam os desastres mais mortais

Stewart M. Patrick publicou recentemente um post no blog The Internationalist, analisando o aumento da mortandade causada pelos desastres naturais e sua relação com as cidades.

Hoje, metade da população mundial vive em cidades. Em 2050, a população urbana será de 75%.  Boa parte desse movimento do campo para as cidades se dá em países do terceiro mundo - Brasil incluso. Problemas conhecidos como o crescimento desordenado, sem o controle do uso do solo, incluindo a a ocupação de áreas de risco, se repetem.

Um artigo publicano na CNN.com em 2011, na esteira do terremoto e tsunami que assolaram o Japão,  analisou a percepção de que os terremotos têm aumentado no mundo. A conclusão? Não, os terremotos não estão aumentando de frequência ou intensidade, de acordo com os dados geológicos disponíveis.

O que acontece é que metrópoles continuam a crescer, muitas delas ao longo de falhas geológicas. Cidades grandes como Kathmandu, no Nepal; Islamabad, no Paquistão; Nova Delhi, na Índia; e Dhaka, no Bangladesh estão situadas em zonas de potencial atividade sísmica. Cada vez mais, construções feitas em materiais leves e com um ou dois pavimentos, são substituídas por edifícios em alvenaria com vários andares, muito mais rígidos e menos resistentes aos terremotos. Assim, os abalos provocam muito mais estragos do que antigamente.

Ocupação desordenada expõe as comunidades ao risco de desastres. Na foto, o deslizamento do Morro do Bumba, em Niterói, em 2010. (http://noticias.terra.com.br/)
Por outro lado, as mudanças climáticas globais tendem a provocar mais eventos climáticos extremos, conforme discutido na postagem de 24 de fevereiro. Relembrando, o geólogo James L. Powell cita como exemplos, a nevasca com 23,2 polegadas de neve que ocorreu em 19 e 20 de dezembro de 2009 e outra de 28,5 polegadas ocorreu em 5 e 6 de fevereiro de 2010, na Filadélfia, Estados Unidos.  Ambas são consideradas tempestades do tipo “uma a cada cem anos”, mas ocorreram com seis meses de intervalo. O Dr. Powell lembra também da tempestade tropical Anita, em março de 2011, o segundo evento desse tipo a atingir o solo na história do Brasil.

Segundo Gerhard Berz, ex-Head da Geo Risks na Munich Re, uma resseguradora alemã,  “prejuízos devido a desastres naturais aumentaram oito vezes em termos econômicos, nas últimas quatro décadas”.

A urbanização descontrolada tem colocado, cada vez mais, pessoas e propriedades em risco. Cabe à sociedade, e principalmente aos governos, regularem a ocupação do solo e investir no aumento da resiliência daquelas comunidades já existentes em áreas de risco.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Prevendo o comportamento em situação de crise

Ninguém pode responder por sua coragem quando nunca esteve em perigo”.
François de La Rochefoucauld


Em julho, tive a oportunidade de falar sobre um assunto que me fascina, o comportamento humano em situação de emergência, na 4a. Conferência Latinoamericana de Segurança de Processos, no Rio de Janeiro. Uma das perguntas que foram feitas e que gerou uma troca de ideias bastante interessante, foi sobre como prever o comportamento de profissionais, como operadores em uma planta química e bombeiros, entre outros, frente a uma emergência real. Em outras palavras, quem ira desempenhar bem suas tarefas e quem ira ceder sob pressão.


Algumas pessoas são mais suceptíveis a tomar ações proativas em face de uma emergência. Essa postura de tomar acoes na crise é um fator de diminuição de estresse e, consequentemente, melhor desempenho frente a situação. Pessoas otimistas e auto confiantes se enquadram nessa categoria. Um estudo coordenado por Matthew Lieberman, na Universidade da Califórnia em Los Angeles em 2008, verificou que pessoas com esses “recursos psicossociais” apresentam um nível de cortisol menor que a média ao ter que fazer uma apresentação em público. Quando colocados em um scanner cerebral e submetidos a imagens de rostos aterrorizantes, apresentam uma maior ativação do córtex ventral prefrontal lateral (VLPFC) direito, a principal parte do cérebro relacionada ao autocontrole. Essa ativação corresponde, por sua vez, a uma menor ativação da amígdala, região responsável pelo comportamento instintivo.

Membro das Forças Especiais dos EUA (http://www.usarmy.com).


No seu livro "The Unthinkable", Amanda Ripley cita estudos feitos pelo médico americano Charles A. Morgan, III, do National Center for PTSD, que mostraram que membros das Forças Especiais do Exército dos EUA, os famosos "Boinas Verdes", que normalmente têm melhor performance em exercícios em que são submetidos a situações extremas, como campos de prisioneiros simulados, apresentam uma produção maior do chamado neuropeptídeo Y, um químico que auxilia a manter o foco sob stress, entre outras coisas.

Resta saber até onde exames de sangue ou exames psicológicos poderão realmente predizer o comportamento das pessoas ao encarar um crise.


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terça-feira, 24 de julho de 2012

Tsunami de 2004 – Um estudo de caso


No dia 26 de dezembro de 2004, um terremoto de magnitude 9,0 na escala de Richter liberou a energia equivalente a 23 mil bombas atômicas como a lançada sobre Hiroshima. O epicentro do terremoto estava sob o Oceano Índico, na costa oeste da ilha Indonésia de Sumatra e foi causado pelo deslizamento da placa tectônica da Índia sob a placa da Birmânia. Esse fenômeno causou a movimentação de trilhões de toneladas de rocha no fundo do mar. Um grande volume de água do oceano, que estava sobre o fundo perturbado do mar, foi deslocado causando o fenômeno tsunami. As ondas viajaram a cerca de 800 Km/h, causando destruição e morte em 11 países. O tsunami causou mortes até na África, a cinco mil quilômetros de distância.
Efeitos do tsunami em hotel na Tailândia. (http://www.tsunamis.com/)


A estimativa do número de mortes varia entre 150 e 225 mil pessoas. Grande parte dessas mortes pode ser creditada à falta de preparação para esse tipo de emergência, tanto por parte das autoridades, como por parte da população. Nos locais atingidos, não havia plano de emergência, com rota de fuga ou sistema de alarme. Além disso, havia uma grande falta de conhecimento sobre o tsunami, tanto é que várias pessoas foram vistas na praia observando despreocupadamente o retrocesso do mar, sinal de aviso de tsunami iminente.


Parte dessa ignorância pode ser justificada pelo fato do tsunami ser um fenômeno raro no Oceano Índico e o evento ocorrido em 2004 ter tido proporções enormes, sendo causado pelo maior terremoto no planeta em décadas.


Considerando-se o número de mortos, a Indonésia foi o país mais afetado. Vários fatos contribuíram para isso, entre eles a localização geográfica do país e a falta de sistema de alarme prévio e respectivo treinamento. Dentro da Indonésia, a província mais afetada foi Aceh, cuja precária infraestrutura já vinha sido castigada por uma tentativa de insurreição do Grupo Aceh Livre (GAM).


Resposta


Um tsunami, ao contrário dos terremotos, costuma deixar relativamente poucos feridos. Os atingidos normalmente ou morrem nos instantes iniciais do evento, ou sobrevivem praticamente sem ferimentos. Desse modo, a resposta de emergência está mais relacionada aos esforços de reconstrução e manutenção da saúde e segurança pública, do que a trabalhos de resgate e primeiros socorros.


Praticamente todos os países afetados tiveram uma resposta própria pífia, que necessitou de ajuda internacional. Um país que teve uma resposta digna de nota foi a Tailândia, onde o Ministério Tailandês de Saúde Pública (MOPH) colocou em prática um plano de contingência prévio, envolvendo mais de cem equipes de cuidados médicos de emergência, suporte técnico e educacional, suporte de saúde mental e vigilância epidemiológica, além de três equipes com massagistas acreditados pelo MOPH para massagem terapêutica tradicional nos socorristas e desabrigados.


Em países como as Maldivas, o tsunami praticamente acabou com a capacidade governamental de resposta, enquanto que em países como a Somália, a pobreza crônica teve como conseqüência um governo com nenhuma capacidade de resposta.


Em todos os casos, mais do que a resposta de cada país, o que fez diferença em um primeiro momento foi a resposta local de cada comunidade (lideranças locais/tribais, famílias, vizinhos), o que reforça a importância da preparação das comunidades locais.


A resposta internacional foi decisiva e conseguiu enviar uma soma de 10 bilhões de dólares em doações. A Índia, apesar de também afetada, foi o primeiro país a enviar ajuda aos vizinhos. O Brasil enviou através da FAB uma doação emergencial de 10 toneladas de alimento e 8 toneladas de medicamentos. Posteriormente, a sociedade civil recolheu mais de 70 toneladas em doações de comida, roupas e medicamentos.


Além dos governos, várias ONGs internacionais participaram da operação como Médecins Sans Frontières, International Federation of Red Cross and Red Crescent Societies, Lions Clubs International, Oxfam International e a ONU, além de inúmeras corporações.


Situação atual


No Oceano Índico, existe um grande centro de alarme antecipado em Jacarta, capital da Indonésia, cuja construção foi iniciada após os tsunamis de 2004, com participação alemã. Além de sismógrafos, conta com marégrafos e boias que medem as ondas no mar aberto. Todas essas informações são então coletadas e interpretadas no centro em Jacarta. Para o Oceano Índico, devido à proximidade dos países com a falha geológica que provoca os terremotos, o tempo disponível entre detecção do tsunami e evacuação dos locais potencialmente afetados é muito menor que no Pacífico. Além disso, a população agora conhece o fenômeno e seu poder de destruição.


Boia do sistema de aviso antecipado de tsunamis. (http://knowledge.allianz.com/)


Com certeza, a destruição e perda de vidas humanas seriam menores se o evento ocorresse hoje, embora qualquer sistema de segurança e alarme será eficiente na medida em que for operado, mantido e treinado de modo correto e constante.

terça-feira, 10 de julho de 2012

Identificação de produtos envolvidos em emergências químicas

Em emergências com produtos perigosos - seja um vazamento de caminhão tanque ou um ataque terrorista - a informação é fundamental. Antes de prestar primeiros socorros ou descontaminar um local, a equipe deve determinar quais substâncias estão presentes e compreender os riscos inerentes às pessoas ou ao meio ambiente.


Imagine que essa informação não esteja disponível. Um galpão com tambores abandonados, rótulos apagados ou inexistentes, responsáveis ausentes... como descobrir com o que se está lidando?


Existem vários recursos disponíveis para isso. Vamos examinar dois deles que podem ser obtidos gratuitamente.


Computer-Aided Management of Emergency Operations (CAMEO)



CAMEO é um nome genérico que abrange softwares gratuitos oferecidos pelo Office of Response and Restoration da NOAA (). Para identificação dos produtos químicos, o software de interesse é o CAMEO Chemicals, disponível como um website e como uma versão para download que pode ser executada em um computador off-line.

O software tem uma biblioteca com milhares de produtos químicos com dados físico-químicos e informações para resposta a emergência, além de prever os resultados da mistura de vários produtos. Através da busca avançada, é possível procurar o produto químico através de características físicas, como o odor e o aspecto. Obviamente o resultado da busca retornará várias referências, que podem ser refinadas com mais informações que o socorrista tiver disponíveis.

O problema é que o software está em inglês. Instruções detalhadas em: http://cameochemicals.noaa.gov/help/3_searches/using_physical_clues.htm


Programa para Identificação de Produtos Químicos da CETESB


O pessoal do setor de Atendimento a Emergências da CETESB desenvolveu uma planilha em Excel, com a finalidade de auxiliar as equipes de resposta às emergências químicas na identificação dos produtos envolvidos. O programa foi desenvolvido tendo como base um documento técnico da CETESB elaborado em 1993.

A planilha é muito simples e criativa e está em português. Ela pode ser acessada em: http://www.cetesb.sp.gov.br/gerenciamento-de-riscos/emergencias-quimicas/259-home, clicando em "Programa para Identificação de Produtos Químicos".

terça-feira, 26 de junho de 2012

Impacto global dos desastres

Durante a Rio+20, no dia 13 de junho, a Representante Especial do Secretário Geral da ONU para Redução do Risco de Desastres, Margareta Wahlström, expressou a necessidade dos estados membros da ONU de encarar as realidades dos impactos humanos e economicos de desastres, desde a conferência de 1992.

Ao longo dos últimos vinte anos, estima-se conservadoramente que os desastres já mataram 1,3 milhões de pessoas, afetaram 4,4 bilhões e resultaram em perdas econômicas de US $ 2 trilhões. Esses são números surpreendentes, analisando o que isso significa em termos de oportunidades perdidas, vidas destroçadas, habitações, escolas e unidades de saúde destruídas, perdas culturais e de transporte.




Os países mais afetados nas categorias de pessoas afetadas, perdas materiais e perdas humanas são a China (2,5 bilhões de pessoas afetadas), os Estados Unidos (US$ 560 bilhões de prejuízo) e o Haiti (230.675 mortos). Isso não significa de forma alguma que o Brasil esteja vacinado e imune a desastres.

Pelo contrário, essas informações mostram a vulnerabilidade de qualquer país do nosso planeta a desastres. Reconhecer o risco de desastres e se preparar e o único caminho.

Para ver o comunicado e o infográfico da ONU, clique aqui: http://www.unisdr.org/files/27162_2012no21.pdf.

Algumas observações:

Devido à falta de tempo para me dedicar ao blog, as postagens não serão mais semanais. Pelo menos durante os próximos meses, tentarei atualizar o blog mais ou menos a cada quinze dias.

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sábado, 16 de junho de 2012

O desafio de envolver o público na preparação para emergências

Mais de uma vez, escrevi desmentindo o mito da Síndrome do Desastre: a ideia de que o público em geral é impotente diante de um desastre e totalmente dependente da ajuda especializada, normalmente do governo. Os fatos mostram que quando o desastre ocorre, as populações mostram uma capacidade de resposta e resiliência acima do esperado. Uma das maneiras de melhorar essa capacidade é através de treinamentos e simulados. Mas não é assim tão simples.
Há cerca de dois anos, estava no Poupatempo da Praça da Sé, em São Paulo, quando foi realizado um simulado de evasão. Para quem não conhece, o Poupatempo é um local que centraliza vários serviços públicos e, como o nome diz, tem como principal característica a rapidez nos seus serviços. O simulado foi relativamente bem organizado, com faixas e cartazes informando do simulado (mas não seu horário) e, alguns minutos antes dos alarmes soarem, distribuição de senhas para que as pessoas mantivessem seus lugares nas filas quando do retorno ao prédio.
Quando o simulado começou, qual foi a reação do público? De alívio, pois o governo estava cumprindo sua obrigação de preparar-se para emergências? Não... “Palhaçada”,  “falta do que fazer” e “perda de tempo” foram alguns dos comentários que ouvi (a bem da verdade, o simulado atrasou cerca de meia hora o atendimento).
No dia 31 de maio, o Peru realizou um simulado nacional de terremoto e tsunami. O Peru está localizado na região de interface entre duas grandes placas tectônicas, a Placa Sul-americana e a Placa de Nazca e tem um histórico de vários terremotos.


O que se viu no simulado foram duas situações. Por parte da Defesa Civil e algumas outras autoridades e entidades civis, como hotéis e escolas, houve o comprometimento e participação. Por parte da população em geral, a participação variou entre nenhuma e a mesma revolta vista no simulado do Poupatempo.

No simulado brasileiro, apesar da organização, ninguém explicou à população o que estava ocorrendo e nem a importância do simulado (como "atenuante", talvez isso não tenha sido feito para não atrasar ainda mais o atendimento). Além disso, o pessoal uniformizado que participou do simulado, agentes de segurança contratados e Guardas Civis Municipais, mantiveram a distância e um inconsciente ar de superioridade em relação aos "civis" que participaram do simulado.

No caso peruano, por exemplo, a entrada do aeroporto de Lima foi interditada por cerca de 15 minutos, mas ninguém apareceu para avisar o que estava acontecendo ou para avaliar as consequências da interdição no trânsito: um congestionamento enorme se formou em uma área que poderia ser varrida pelo tsunami, em uma situação real.

Não existe uma receita pronta para que os simulados envolvam e conquistem a participação do público. Mas, seja qual for o caminho tomado, o processo para viabilizar essa participação indispensável deve passar pela comunicação clara com todos os envolvidos.