Pesquisar este blog

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Kits de emergência

No site ready.gov, do governo dos EUA, está colocado como um dos principais passos na preparação para emergências a montagem de um kit de emergência. Entrando no site da Amazon.com e procurando por "survival kit", é possível encontrar inúmeras opções de kits, a partir de US$ 20 até mais de US$ 1.000.


A recomendação da FEMA é para um kit para 72 horas. Em um artigo publicado no IAEM Bulletin de janeiro de 2011, a autora Valerie Lucus-McEwen questiona o motivo desse período de tempo. Ela não conseguiu determinar a razão para as 72 horas, mas alguns das suposições mais comuns são que esse seria o tempo médio para a chegada de recursos estaduais e federais (nos EUA) ou ainda que esse período seria razoável para que as pessoas fossem encorajadas a se preparar sem ficarem desanimadas com um tempo longo demais.

Kit para 72 horas e 4 pessoas. (http://www.amazon.com/)

No Brasil, a cultura da preparação ainda está engatinhando. Por outro lado, essa cultura, nos Estados Unidos, pode ser exagerada, às vezes beirando a paranóia. Que tal buscarmos um ponto intermediário?


Por exemplo, durante a temporada de chuvas mais fortes, a probabilidade de enfrentarmos um apagão, durando de horas até dias, não é desprezível. Você tem uma lanterna colocada em local estratégico da casa? Dependendo da configuração de sua residência e número de ocupantes, mais de uma lanterna pode ser necessária. Sua lanterna tem pilhas carregadas? Tem sobressalentes?


Fila em posto de combustíveis durante a greve de caminhoneiros em março de 2012, o tipo de crise que pode impedir o acesso a alguns produtos ou serviços. (http://radar09.com.br/)


Em outro exemplo, uma greve nos transportes ou uma crise - mesmo que passageira - na segurança pública pode dificultar ou impedir que as pessoas saiam de casa e tenham acesso ao comércio. Nesse caso, na sua casa, alguém precisa de remédios de uso contínuo? Tem um pequeno estoque para alguns dias ou espera terminar tudo para comprar outro?


E os documentos principais? Uma idéia é escaneá-los e armazenar os arquivos na "nuvem" ou em outro meio (pen drive, CD...). Caso alguma coisa aconteça com os originais, essas cópias podem ajudar bastante.


Se você mora em uma zona rural ou local mais ermo, pode ser interessante considerar um pequeno estoque de combustível e alimentos, entre outras coisas.


Não tenho a pretensão de colocar uma lista definitiva de itens, mas apenas provocar um pouco para que pensemos no assunto. O importante é reconhecermos os riscos a que estamos expostos e nos prepar de forma realista.

sábado, 19 de maio de 2012

Recursos e princípios do Sistema de Comando de Incidentes

Continuando as postagens sobre o SCI, vamos agora examinar os recursos e princípios do sistema, baseados no treinamento ICS-100 da FEMA.

O curso básico da FEMA sobre SCI. (http://training.fema.gov/)

O uso de terminologia comum ajuda a definir funções organizacionais e recursos. Idealmente, nas comunicações via rádio, deve ser usada a Língua Portuguesa – nada de código Q!


Cadeia de comando:
– É uma linha ordenada de autoridade dentro de uma organização de resposta a emergência.
– Permite que os gestores do incidente dirijam e controlem as ações de todo pessoal sob sua supervisão.
– Evita confusão ao requerer que as ordens fluam dos supervisores.
– Não impede o compartilhamento de informações.


Sob a unidade de comando, o pessoal:
– Reporta somente a um supervisor no incidente.
– Recebe ordens apenas do seu supervisor designado.



No gerenciamento por objetivos, as prioridades para os objetivos no incidente são:
#1: Preservação da vida e saúde.
#2: Estabilização do incidente.
#3: Preservação do patrimônio e do meio ambiente.



Organização modular - A estrutura organizacional do comando de incidentes está baseada em:
- Tamanho, tipo e complexidade do incidente.
- Especificidades do ambiente de risco criadas pelo incidente.
- O processo de planejamento e os objetivos no incidente.



Cada incidente deve ter um Plano de Ação de Incidentes que:
- Especifique os objetivos no incidente.
- Estabeleça as atividades a serem cumpridas.
- Cubra um período de ações chamado período operacional.
- Pode ser oral ou escrito.



Alcance de controle:
– Refere-se ao número de pessoas ou outros recursos que um único supervisor pode gerenciar efetivamente durante um incidente.
– É a chave para um gerenciamento efetivo e eficiente do incidente.
– Está entre 3 e 7 subordinados.


Instalações e recursos



Outro ponto importante no SCI é a designação, isto é, em qualquer incidente:
– A situação deve ser avaliada e a resposta planejada.
– A consideração mais importante é gerenciar os recursos de modo seguro e efetivo.
– Pessoal e equipamento deve atuar somente quando designado pela autoridade apropriada.

Não é tolerada a atuação free lancer!






sábado, 12 de maio de 2012

O Sistema de Comando de Incidentes no Brasil


A primeira postagem deste blog  foi uma breve introdução sobre o Sistema de Comando de Incidentes (SCI). Aquela  postagem é uma das mais acessadas do blog e o assunto merece ser revisitado.

O que é o SCI?

Em resumo, é um conceito de gerenciamento padronizado, na cena de operações, voltado para todos os tipos de risco. O SCI permite a resposta coordenada entre várias agências e estabelece um processo comum para planejamento e gerenciamento de recursos. O sistema pode ser usado no gerenciamento de desastres naturais, desastres tecnológicos, desastres causados pelo homem (intencionalmente ou não) e até mesmo para eventos planejados.

O SCI facilita a integração no caso de resposta multi agência. Na foto, a resposta ao pouso do  A-320 da US Airways no Rio Hudson, em 2009. (www.uscg.mil)

O SCI já foi colocado  à prova inúmeras vezes e mostrou sua eficiência. Sem o uso do SCI, os problemas mais comuns no gerenciamento de incidentes são:
– Falta de responsabilização (accountability).
– Comunicação deficiente.
– Planejamento não sistemático.
– Integração deficiente entre os socorristas.


O Sistema de Comando de Incidentes – SCI:
– Utiliza recursos de gerenciamento incluindo terminologia comum e estrutura organizacional modular.
– Enfatiza o planejamento ativo através do uso de gerenciamento por objetivos e plano de ação de incidentes.
– Apóia os socorristas através do gerenciamento efetivo de informações.
– Utiliza os princípios de cadeia de comando, unidade de comandotransferência de comando.
– Assegura a utilização plena dos recursos mantendo um alcance de controle gerenciável, estabelecendo instalações pré-designadas, implementando práticas de gerenciamento de recursos e comunicações integradas.

Em postagens futuras poderemos explorar mais os elementos que compõem o SCI.

No setor público brasileiro

Com a descoberta do SCI por alguns profissionais brasileiros de emergências, por meio de participação em cursos e treinamentos no exterior, alguns estados brasileiros iniciaram o processo de estudo e implantação do SCI.

O estado de Santa Catarina, em parceria com a defesa civil estadual e a Universidade de Santa Catarina, iniciou o estudo e o processo de implantação do SCI utilizando seus princípios, só que com denominação diferente: Sistema de Comando em Operações - SCO. Outro estado que adotou essa mesma denominação foi o Paraná. São Paulo, por meio do Corpo de Bombeiros, após o estudo e análise do SCI, resolveu utilizar esses princípios, porém com a denominação de SICOE – Sistema de Comando em Operações de Emergência. O Rio de Janeiro também adotou o uso do SCI em suas ações operacionais. No Distrito Federal, também iniciou-se o processo de implantação do Sistema de Comando de Incidentes.

O SICOE não é apenas uma viatura, mas o sistema de comando adotado pelo Corpo de Bombeiros de São Paulo. ( http://www.fotolog.com.br/bombeiros_bauru/ )


Participantes das Polícias Militares, Bombeiros Militares e Polícias Civis dos Estados e da Polícia Federal das 12 cidades-sede para a Copa do Mundo 2014, serão treinados no ICS pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), do Ministério da Justiça em parceria com a Embaixada dos Estados Unidos.

É possível adotar o SCI no setor privado aqui no Brasil?

A resposta, até por experiência própria, é ,definitivamente, sim. Com pequenas adaptações em relação ao SCI proposto pela FEMA, é possível adotar o sistema em nossas empresas, com grande eficiência, sem interferir com a hierarquia "normal" da empresa ou ainda sem se opor às atribuições de brigadistas e bombeiros profissionais civis, para resposta a acidentes industriais ou outras crises.


Segundo Regina Phelps, da Emergency Management & Safety Solutions, alguns diferenciais positivos para empresas em momentos de crise, são, o quanto antes:
- Ter um processo e equipe de avaliação claramente definidos, bem como os "gatilhos" para acioná-los.
- Ter papéis e responsabilidades claramente definidos.
- Desenvolver um plano de ação sucinto e claro, com objetivos estratégicos.

Todos esses tópicos podem ser claramente facilitados com a adoção do SCI.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Emergências com inflamáveis e eletricidade estática

A ignição de vapores ou gases inflamáveis eletricidade estática é um risco comum em praticamente todos os incidentes com produtos perigosos (ou HAZMAT). Apesar disso, nem todos os profissionais de emergência estão conscientes disso.


A situação pode ser pior naqueles incidentes que não caracterizam uma ocorrência de HAZMAT clássica. Há algum tempo acompanhei o atendimento de uma acidente de trânsito, onde um veículo de passeio havia capotado várias vezes. Algum tempo depois das vítimas terem sido socorridas, o veículo foi desvirado e a equipe de emergência - composta por profissionais experientes - resolveu esvaziar o tanque de combustível do carro, a fim de minimizar o risco de incêndio. Foi usada uma bombona plástica e nada de aterramento... Nada de errado aconteceu, mas o risco estava lá, espreitando.


Treinamento para emergências químicas. Notar o uso do aterramento temporário. (Arquivo pessoal)




Eletricidade estática


Quando dois materiais com diferentes propriedades entram em contato, os elétrons se transferem de um material para outro, deixando os materiais carregados com polaridades positiva e negativa. Esse tipo de carga se chama triboelétrica ou de fricção e o exemplo mais conhecido e experimentado por todos nós é caminhar por um tapete e sentir o "toque" ao tocar em algum metal como a maçaneta de uma porta. Nesse caso fomos carregados de maneira triboelétrica ao fazer contato com o tapete e a descarga eletrostática (transferência) aconteceu no momento de tocar a maçaneta.


A descarga eletrostática é a transferência súbita e rápida de carga elétrica de um objeto para outro quando existe uma diferença em potencial, a famosa faísca. Se a energia dessa descarga for maior que energia mínima de ignição (MIE) do produto que provoca a atmosfera inflamável,  pode haver explosão. Existem outros tipos de descarga eletrostática (corona, brush, etc), mas para esta nossa discussão, vamos pensar apenas na descarga do tipo faísca.


A energia da faísca é normalmente medida em milijoules (mJ). A grosso modo, um milijoule é a energia gerada quando uma moeda cai sobre uma mesa, de uma altura de 2,5 cm. O gás liquefeito de petróleo (GLP) tem uma MIE de 0,25 mJ e o hidrogênio, apenas 0,02 mJ. A energia da faísca que sentimos, por exemplo, ao tocar a porta de um carro em um dia seco, pode chegar a 50-60 mJ!


O que fazer?


Quando a emergência acontece em uma planta química, normalmente é possível encontrar vários pontos de aterramento que podem ser usados, atendendo a norma NFPA 780 ou outra similar. Agora, quando o atendimento ocorre em outro local, como em uma emergência de transporte, pode ser necessário fazer um sistema de aterramento. Nesse caso, é quase certo que o atendimento da norma será impraticável.



Segundo a publicação do CCPS, "Avoiding Static Ignition Hazards in Chemical Operations", uma resistência ao solo da ordem de 20 kΩ ou menos pode ser atingida com uma haste de aterramento temporário de aproximadamente 1,5 m de comprimento, mesmo enterrada em areia seca.  A resistência típica do  solo é inferior a 1000  Ω . Uma haste de aterramento temporário utilizada exclusivamente para dissipação de eletricidade estática pode consistir de uma barra com  ½ a ¾ de polegadas de diâmetro em aço inoxidável, já que é enterrado no solo usando uma marreta.


É importante também a ordem de ligação dos elementos, pois se houver faísca na descarga eletrostática, o quanto mais longe da atmosfera explosiva, melhor. Por isso, a ligação a terra deve ser a última a ser feita. Por exemplo, pensando na transferência de líquido inflamável de um recipiente com vazamento (por exemplo, um tambor metálico) para outro, com equipotencialização e posterior aterramenté exto, usa-se o mnemônico L-E-G (perna, em inglês): Leaking (vazando), Empty (vazio), Ground (terra).


Kit de aterramento para emergências químicas. ( http://www.lindequipment.net/ )


O assunto é importante e extenso. Não tenho a pretensão de esgotá-lo com esta postagem, mas apenas de chamar a atenção para esse aspecto muitas vezes esquecido das emergências químicas.