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domingo, 4 de novembro de 2012

A crise da segurança pública em São Paulo

Apenas nos três primeiros dias de novembro, trinta pessoas morreram na Região Metropolitana de São Paulo em ataques violentos ou em confronto com a polícia. Os números de homicídios no mês de setembro em São Paulo registraram um aumento de 96% em relação ao mesmo mês do ano passado. Foram 135 casos que resultaram em 144 mortes, uma média de quase 5 por dia.

Operação policial na favela de Paraisópolis. (http://www.estadao.com.br/)

A situação é muito recente e sequer foi resolvida ainda, de forma que é muito cedo para conclusões definitivas, mas alguns fatos já podem ser comentados. Procurarei não me deter nas questões específicas de Segurança Pública, que não são o foco central deste blog, mas examinar a situação do ponto de vista do Gerenciamento de Emergências, especialmente da comunicação em crises.

Parece que a regra básica de que a organização em crise deve divulgar os fatos ruins o quanto antes não foi seguida. Em que pese que a organização em questão é o Governo do Estado de São Paulo e que acabamos de passar por um período eleitoral, a insistência em minimizar os fatos e negar a crise parece-me uma enorme falha de comunicação.

Na postagem de 27 de janeiro, já citamos uma definição para crise, que pode ser um acontecimento extraordinário, ou uma série de acontecimentos, que afeta de forma diversa à integridade do produto, a reputação ou a estabilidade financeira da organização; ou a saúde e bem-estar dos empregados, da comunidade ou do público em geral, conforme o Professor Dennis Wilcox, da San Jose State University. Pelos fatos do início da postagem, parece claro que o Estado enfrenta uma crise.

No final do mês passado, o secretário de Estado da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, negou que o crime organizado tenha mandado comerciantes fecharem as portas, atribuiu o pânico que se espalha na cidade a boatos e colocou a culpa nos meios de comunicação. Para ele, toque de recolher "é coisa de outros Estados". "É a imprensa que fica criando pânico na população, sem apurar nem confirmar os fatos", disse o capitão Rodrigo Cabral, da assessoria de comunicação da PM. Embora realmente não deva ter havido um toque de recolher formalmente decretado , a negação e - pior - a transferência da culpa para os meios de comunicação não me parece a melhor estratégia de comunicação e nem o melhor meio de tranquilizar a população.

Operação policial na favela de Paraisópolis. (http://oglobo.globo.com/)

Outra questão que aparece nesse contexto é a aparente contradição entre os membros do governo, tanto paulista como federal. O Secretário da Segurança afirmou que "estamos com a estratégia absolutamente correta" (26/10) e que "aqui a polícia entra em qualquer lugar, aqui não precisa ter unidade pacificadora, não tem nada para pacificar em São Paulo" (31/10). O Comandante da PM afirmou que considera "desnecessário o Exército" (02/11). Já o Governador Geraldo Alckmin afirmou que "toda ajuda é muito bem-vinda" (31/10). Por sua vez, a ministra-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Helena Chagas, afirmou que o Governo de São Paulo aceitou a oferta de ajuda federal para combater a violência no Estado, em telefonema feito pela presidente Dilma Rousseff (31/10).

Provavelmente essa crise se tornará um "case" para estudos futuros. Espero que os governos estadual e federal acertem não somente o discurso, mas - principalmente - as ações para por fim à situação o mais rapidamente possível.

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