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sexta-feira, 4 de maio de 2012

Emergências com inflamáveis e eletricidade estática

A ignição de vapores ou gases inflamáveis eletricidade estática é um risco comum em praticamente todos os incidentes com produtos perigosos (ou HAZMAT). Apesar disso, nem todos os profissionais de emergência estão conscientes disso.


A situação pode ser pior naqueles incidentes que não caracterizam uma ocorrência de HAZMAT clássica. Há algum tempo acompanhei o atendimento de uma acidente de trânsito, onde um veículo de passeio havia capotado várias vezes. Algum tempo depois das vítimas terem sido socorridas, o veículo foi desvirado e a equipe de emergência - composta por profissionais experientes - resolveu esvaziar o tanque de combustível do carro, a fim de minimizar o risco de incêndio. Foi usada uma bombona plástica e nada de aterramento... Nada de errado aconteceu, mas o risco estava lá, espreitando.


Treinamento para emergências químicas. Notar o uso do aterramento temporário. (Arquivo pessoal)




Eletricidade estática


Quando dois materiais com diferentes propriedades entram em contato, os elétrons se transferem de um material para outro, deixando os materiais carregados com polaridades positiva e negativa. Esse tipo de carga se chama triboelétrica ou de fricção e o exemplo mais conhecido e experimentado por todos nós é caminhar por um tapete e sentir o "toque" ao tocar em algum metal como a maçaneta de uma porta. Nesse caso fomos carregados de maneira triboelétrica ao fazer contato com o tapete e a descarga eletrostática (transferência) aconteceu no momento de tocar a maçaneta.


A descarga eletrostática é a transferência súbita e rápida de carga elétrica de um objeto para outro quando existe uma diferença em potencial, a famosa faísca. Se a energia dessa descarga for maior que energia mínima de ignição (MIE) do produto que provoca a atmosfera inflamável,  pode haver explosão. Existem outros tipos de descarga eletrostática (corona, brush, etc), mas para esta nossa discussão, vamos pensar apenas na descarga do tipo faísca.


A energia da faísca é normalmente medida em milijoules (mJ). A grosso modo, um milijoule é a energia gerada quando uma moeda cai sobre uma mesa, de uma altura de 2,5 cm. O gás liquefeito de petróleo (GLP) tem uma MIE de 0,25 mJ e o hidrogênio, apenas 0,02 mJ. A energia da faísca que sentimos, por exemplo, ao tocar a porta de um carro em um dia seco, pode chegar a 50-60 mJ!


O que fazer?


Quando a emergência acontece em uma planta química, normalmente é possível encontrar vários pontos de aterramento que podem ser usados, atendendo a norma NFPA 780 ou outra similar. Agora, quando o atendimento ocorre em outro local, como em uma emergência de transporte, pode ser necessário fazer um sistema de aterramento. Nesse caso, é quase certo que o atendimento da norma será impraticável.



Segundo a publicação do CCPS, "Avoiding Static Ignition Hazards in Chemical Operations", uma resistência ao solo da ordem de 20 kΩ ou menos pode ser atingida com uma haste de aterramento temporário de aproximadamente 1,5 m de comprimento, mesmo enterrada em areia seca.  A resistência típica do  solo é inferior a 1000  Ω . Uma haste de aterramento temporário utilizada exclusivamente para dissipação de eletricidade estática pode consistir de uma barra com  ½ a ¾ de polegadas de diâmetro em aço inoxidável, já que é enterrado no solo usando uma marreta.


É importante também a ordem de ligação dos elementos, pois se houver faísca na descarga eletrostática, o quanto mais longe da atmosfera explosiva, melhor. Por isso, a ligação a terra deve ser a última a ser feita. Por exemplo, pensando na transferência de líquido inflamável de um recipiente com vazamento (por exemplo, um tambor metálico) para outro, com equipotencialização e posterior aterramenté exto, usa-se o mnemônico L-E-G (perna, em inglês): Leaking (vazando), Empty (vazio), Ground (terra).


Kit de aterramento para emergências químicas. ( http://www.lindequipment.net/ )


O assunto é importante e extenso. Não tenho a pretensão de esgotá-lo com esta postagem, mas apenas de chamar a atenção para esse aspecto muitas vezes esquecido das emergências químicas.

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