Pesquisar este blog

sábado, 16 de junho de 2012

O desafio de envolver o público na preparação para emergências

Mais de uma vez, escrevi desmentindo o mito da Síndrome do Desastre: a ideia de que o público em geral é impotente diante de um desastre e totalmente dependente da ajuda especializada, normalmente do governo. Os fatos mostram que quando o desastre ocorre, as populações mostram uma capacidade de resposta e resiliência acima do esperado. Uma das maneiras de melhorar essa capacidade é através de treinamentos e simulados. Mas não é assim tão simples.
Há cerca de dois anos, estava no Poupatempo da Praça da Sé, em São Paulo, quando foi realizado um simulado de evasão. Para quem não conhece, o Poupatempo é um local que centraliza vários serviços públicos e, como o nome diz, tem como principal característica a rapidez nos seus serviços. O simulado foi relativamente bem organizado, com faixas e cartazes informando do simulado (mas não seu horário) e, alguns minutos antes dos alarmes soarem, distribuição de senhas para que as pessoas mantivessem seus lugares nas filas quando do retorno ao prédio.
Quando o simulado começou, qual foi a reação do público? De alívio, pois o governo estava cumprindo sua obrigação de preparar-se para emergências? Não... “Palhaçada”,  “falta do que fazer” e “perda de tempo” foram alguns dos comentários que ouvi (a bem da verdade, o simulado atrasou cerca de meia hora o atendimento).
No dia 31 de maio, o Peru realizou um simulado nacional de terremoto e tsunami. O Peru está localizado na região de interface entre duas grandes placas tectônicas, a Placa Sul-americana e a Placa de Nazca e tem um histórico de vários terremotos.


O que se viu no simulado foram duas situações. Por parte da Defesa Civil e algumas outras autoridades e entidades civis, como hotéis e escolas, houve o comprometimento e participação. Por parte da população em geral, a participação variou entre nenhuma e a mesma revolta vista no simulado do Poupatempo.

No simulado brasileiro, apesar da organização, ninguém explicou à população o que estava ocorrendo e nem a importância do simulado (como "atenuante", talvez isso não tenha sido feito para não atrasar ainda mais o atendimento). Além disso, o pessoal uniformizado que participou do simulado, agentes de segurança contratados e Guardas Civis Municipais, mantiveram a distância e um inconsciente ar de superioridade em relação aos "civis" que participaram do simulado.

No caso peruano, por exemplo, a entrada do aeroporto de Lima foi interditada por cerca de 15 minutos, mas ninguém apareceu para avisar o que estava acontecendo ou para avaliar as consequências da interdição no trânsito: um congestionamento enorme se formou em uma área que poderia ser varrida pelo tsunami, em uma situação real.

Não existe uma receita pronta para que os simulados envolvam e conquistem a participação do público. Mas, seja qual for o caminho tomado, o processo para viabilizar essa participação indispensável deve passar pela comunicação clara com todos os envolvidos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário