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domingo, 22 de abril de 2012

Massacre de Realengo - lições para o gerenciamento de emergências

Em 7 de abril de 2011,  Wellington Menezes de Oliveira invadiu a Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, armado com dois revólveres e atirou contra os estudantes, matando doze e ferindo dezenas. O atirador cometeu suicídio após ser ferido e encurralado pela polícia. O triste episódio ficou conhecido como o Masacre de Realengo.

Escola Municipal Tasso da Silveira, momentos após o crime. (Wikimedia Commons) 


A sociedade ficou estarrecida com o crime que pensávamos que nunca ocorreria aqui e debates acalorados sobre a segurança em nossas escolas surgiram. Mas, passado um ano, será que alguma lição pode ser aplicada ao Gerenciamento de Emergências?

O crime representou aquilo que se conhece por ocorrência de atirador ativo (active shooter). Segundo o Department of Homeland Security (DHS), "um atirador ativo é um indivíduo ativamente engajado em matar ou tentar matar pessoas em uma área confinada e povoada; na maioria dos casos, atiradores ativos usam armas de fogo e não há um padrão ou método para sua seleção de vítimas".


Active shooter


Até o Massacre de Columbine, que aconteceu em 20 de abril de 1999, no Condado de Jefferson, Colorado, Estados Unidos, o procedimento padrão policial para esse tipo de ocorrência nos Estados Unidos era o de "conter e esperar" (contain-and-wait): para evitar ferimentos em policiais e civis,  os primeiros policiais isolavam o local e aguardavam a chegada das equipes táticas da SWAT, que adentrariam no cenário. Em Columbine, o procedimento falhou completamente: durante os 45 minutos entre o isolamento do local e a chegada da SWAT, Eric Harris e Dylan Klebold atiraram em 10 das 13 pessoas que mataram.


A partir disso, o procedimento padrão passou a ser o enfrentamento imediato do atirador, para que ele cesse os disparos: exatamente o que fez em Realengo o então 3º Sargento PM Márcio Alexandre Alves e seus colegas (na minha opinião, mais por um feeling correto do policial do que por causa de treinamento para situação de atirador ativo).


Policiais americanos treinam para conter um atirador ativo. (http://policecrunch.com/)


Preparação


Mas, e por aqui, será que aprendemos alguma coisa? Será que hoje nossos policiais têm programas para enfrentamento de atiradores ativos? E quanto às escolas ou empresas, a ameaça de atirador ativo foi identificada e tratada? 


Conforme já discutido na postagem sobre crises em segurança pública, o trabalho deverá ser no sentido de diminuir as vulnerabilidades. A grande vantagem de fazer o planejamento de emergências baseado em uma análise de ameaças e riscos (all hazards) é que após a identificação de ameaça e do dano, a resposta para um evento serve para muitos outros.


Assim, o reforço da segurança física de áreas e instalações serve tanto para deter um atirador ativo quanto um assaltante comum. Procedimentos para equipes de segurança e emergência podem tanto ser acionados no caso de assalto a um caixa eletrônico nas dependências da empresa, quanto para um atirador desequilibrado.


O "público em geral" também precisa ser orientado sobre o que fazer. Nos Estados Unidos, até curso a distância gratuito existe para isso.


Na postagem anterior, citei uma passagem de Lewis Carroll sobre lições (não) aprendidas em eventos traumáticos que, creio eu, merece uma repetição:

"O horror daquele momento," o rei continuou, "eu nunca, nunca vou esquecer!"
"Você vai, no entanto," disse a Rainha, "se você não fizer um memorando sobre isso."
Lewis Carroll, Through the Looking-Glass, and What Alice Found There, 1871



Essa ameaça, como outras, precisa ser identificada e as organizações precisam estar preparadas. Não adianta simplesmente esquecer e fingir que não irá acontecer de novo.

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