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sexta-feira, 6 de abril de 2012

Planejamento de emergências no transporte público

Na manhã de uma terça-feira, 21 de setembro de 2010, uma emergência afetou a Linha 3-Vermelha do Metrô de São Paulo, atrapalhando o funcionamento das 18 estações da linha, que vai de Coritinhians-Itaquera, na Zona Leste, até a Palmeiras-Barra Funda, na Zona Oeste. A linha, de 22 Km de extensão, transporta cerca de um milhão de passageiros por dia.


Na ocasião, a composição 309 parou de forma automática, em obediência ao sistema de segurança do Metrô.  Um funcionário desceu para verificar uma porta que não estava aberta, mas que constava como aberta. Demorou algum tempo e, três a cinco minutos depois, um passageiro acionou o botão de emergência. O trem ficou imobilizado e , diante da possibilidade dos passageiros descerem para a via férrea, o Metrô desenergizou a via, ocasionando uma interrupção da circulação dos trens. Os passageiros deixaram a composição espontaneamente, de acordo com documento da polícia.


O Metrô de São Paulo em um dia normal.


Teoricamente, o botão de emergência "não deveria ter sido acionado", já que a situação não configurava emergência. Porém, vamos relembrar as três condições para a existência de pânico, segundo o sociólogo Enrico Quarantelli:
- as pessoas devem ter a sensação que estão sendo aprisionadas, 
- devem ter uma grande sensação de impotência
- devem ter uma grande sensação de profundo isolamento.



Imagine-se dentro de um vagão lotado, parado há alguns minutos, sem explicações por parte do condutor... Será que as condições de pânico estarão presentes? Será que a situação não pode ser interpretada como uma emergência e, nesse caso, por que não apertar o botão de emergência?


Em setembro de 2009, um homem morreu esfaqueado em um trem do metrô de Nova Iorque. Após o crime, o que aconteceu? Como no caso brasileiro, um passageiro acionou o dispositivo de emergência, parando o trem, o que na verdade acabou atrasando o socorro e gerando críticas por parte da administração do metrô. Também como no caso brasileiro, o botão de emergência deve ser acionado em algumas emergências, mas não todas, explicação que consta no website do metrô novaiorquino.


Conforme nota Amanda Ripley no seu blog, "se a explicação de dispositivo de "emergência, mas nem todas as emergências"  não faz sentido quando estou sentada no meu sofá, como posso esperar para saber o que fazer quando acabei de passar por algo traumático? O cérebro não funciona bem sob stress e se pode esperar que consiga instantaneamente distinguir entre diferentes tipos de situações de emergência".


O breque de emergência do metrô de Nova Iorque. ( http://www.nytimes.com/  )


O New York Times entrevistou vinte usuários do metrô e metade deles não fazia a mínima ideia de quando usar o dispositivo de emergência ou não. É de se imaginar que uma pesquisa feita por aqui não teria resultados melhores.


Mais uma vez, fica demonstrado que o planejamento de emergência deve ser feito levando-se em conta o comportamento real dos envolvidos na situação de crise e não apenas estereótipos e crenças infundadas sobre como eles irão se portar. Além disso, o público merece e necessita de informação o mais completa, clara e rapidamente possível, para evitar situações como a de São Paulo.

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