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sexta-feira, 2 de março de 2012

A preparação das empresas para desastres naturais - parte 2


Um pouco de estatística


No post de 24 de fevereiro, abordamos a questão de preparação das empresas para desastres naturais. Vimos que a Falácia de Monte Carlo desempenha um papel importante quando não uma empresa não se prepara para um desastre natural do mesmo tipo de algum que já tenha acontecido, por julgar improvável demais que o evento se repita. Aprofundando um pouco nesse assunto, aproveitaremos uma questão levantada pelo professor de psicologia evolucionista na Universidade de Harvard Steven Pinker, no livro "The Better Angels of Our Nature: Why Violence Has Declined".


Suponha que sua empresa esteja localizada em um local que tenha uma probabilidade constante de ser atingida por um raio ao longo do ano. Suponha que os raios sejam aleatórios e que todos os dias tenham a mesma probabilidade, de uma em um mês. A empresa é atingida hoje, sexta-feira. Qual o dia mais provável para a empresa ser atingida novamente? Ao contrário do que muitos diriam, a resposta correta é amanhã, sábado. A probabilidade é pequena, aproximadamente 0,03 (cerca de uma vez ao mês).



O exemplo da queda do raio ajuda a desmontar a Falácia de Monte Carlo.


Vamos examinar agora a probabilidade de que o próximo raio caia depois de amanhã, domingo. Para que isso aconteça, são necessários dois fatos. Primeiro, o raio deve cair no domingo, probabilidade de 0,03. Além disso, o raio não pode cair no sábado. Para calcular essa probabilidade, deve-se multiplicar a chance do raio não atingir a empresa no sábado (0,97 ou 1 menos 0,03) pela chance da empresa ser atingida no domingo (0,03), o que dá 0,0291, um pouco menor que a probabilidade do sábado.


Para a empresa ser atingida na segunda-feira, o raio não pode atingi-la no sábado (0,97) e nem no domingo (0,97 novamente), mas deve cair na segunda, o que dá 0,97 x 0,97 x 0,03, o que dá 0,0282, probabilidade ainda menor. A probabilidade cai dia a dia, exponencialmente. A chance que que o próximo raio caia somente daqui um mês, é de 0,9729 x 0,03, pouco maior que 1%.


Embora os desastres naturais não sejam totalmente aleatórios e nem tenham probabilidade constante ao longo do tempo, o exemplo serve para desmentir a Falácia de Monte Carlo e alertar que desastres naturais podem ocorrer mais de uma vez. 


Negação




Andrew Westen, professor nos Departamentos de Psicologia e Psiquiatria na Emory University de Atlanta, EUA, pontua que a maior parte das pessoas nega o que sabem ser verdade, porque estão mais preocupadas com prazeres de curto prazo do que com consequências de longo prazo que podem ser dolorosas. Em uma empresa, isso se manifesta nas decisões voltadas a maximizar os ganhos para os acionistas em curto prazo, do que decisões para gerar valor estratégico em longo prazo.

Assim, faz-se de conta que desastres naturais não irão ocorrer e não se investe na preparação.


Ameaças e riscos

É possível diminuir as vulnerabilidades relacionadas aos desastres naturais, investindo na preparação e, assim, aumentado as probabilidades de sobrevivência e sucesso da empresa em longo prazo.

Após a identificação das ameaças, pode ser necessário um trabalho de convencimento da direção da empresa para correta compreensão da situação e execução das medidas necessárias. Para isso, o risco deve ser comunicado de maneira adequada. O estudo da FM Global coloca um exemplo interessante. Quando se fala em um evento do tipo 1 a cada 100 anos, pensamos que é extremamente improvável e que não irá ocorrer durante nossa carreira. Porém, a probabilidade de ocorrência de um evento desses em 30 anos é de 26%. O que é mais convincente para um alto executivo: dizer que uma inundação do tipo 1 em 100 anos pode atingir a empresa ou que há 26% de probabilidade da empresa ser atingida por uma inundação maior na vida útil de uma unidade?

Um caso de sucesso na preparação para desastres naturais é o da Continental Airlines. Durante o Furacão Ike, em 2008, a empresa se viu forçada a fechar seu centro de operações em Houston. Porém, a empresa havia se preparado e mantinha um centro de operações alternativo a cerca de 80 km. Como resultado, 84,1% dos voos chegaram no horário e apenas três foram cancelados por causa do furacão.

 O Furacão Ike se aproximando de Houston.

As empresas não precisam ser vítimas dos desastres naturais. É uma questão de correta identificação e comunicação dos riscos e preparação para diminuir as vulnerabilidades.

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